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sábado, 13 de abril de 2013

QUANDO A CHUVA CHEGA

Hoje é um sábado chuvoso aqui em São Paulo, daqueles perfeitamente capazes de descrever com precisão por que a cidade é conhecida como "Terra da Garoa". Olho pela janela e vejo a fina cortina de água descendo por entre as árvores e prédios. E as aves não cantam.
Há dias assim também dentro de nós. Há momentos cinzentos, tristes, melancólicos e quietos. Dias em que a ave que habita a alma simplesmente se recusa a cantar. E a gente não sabe se ela não canta porque não há nenhuma outra fazendo barulho ou se é por falta de vontade ou por ato de rebeldia.
Normalmente gostamos de ficar em nossos ninhos nesses dias nublados. Parece que, diante de tanto silêncio, interior e exterior, formaliza-se um convite ao "entrar em si".
Quando a gente era criança conhecia de cor o ciclo da chuva e naquela época ninguém parecia se importar quando chegava esta época. Uma vez que você não podia sair de casa para se molhar e pular poças d'água, brincar dentro de casa era a agradável opção disponível. Bolinhos de chuva, corrida de pingo e rabiscos na vidraça eram possibilidades que existiam somente nestes dias.
Depois que a gente cresceu, nunca mais prestou atenção nestes detalhes. Ora, todo mundo sabe que a chuva é um fenômeno meteorológico normal, sem o qual a natureza e a própria vida ficam comprometidas. Sendo assim, a gente não deveria se aborrecer com isso.
Nosso ser também se sujeita a este círculo. Quando as nuvens se tornam densas e pesadas demais, é necessário extravasar. E é neste momento que a precipitação, no sentido climático do termo, finalmente ocorre.
É claro que ninguém gosta de chorar. Acho isto muito normal se você considerar que a maioria das pessoas detesta chuva e nunca se lembra daqueles desenhos que esboçavam o fenômeno hídrico e que eram estudados para as provas de ciências.
Mas assim como gotículas leves ou ruidosas tempestades, as lágrimas também têm uma função muito importante na nossa existência.
Elas higienizam males das mais variadas espécies e, o mais importante, põem sua lavoura para crescer e tornam viçosos os brotos do seu plantio.
As lágrimas são intrincadas e, de uma certa forma, muito mais intrigantes e misteriosas que as gotinhas que vejo escorrer junto ao vidro opaco.
Por uma infinidade de diferentes razões elas eclodem no nosso mundo, não necessariamente obedecendo às regras das estações do ano e às etapas do nosso crescimento. E veja só que curioso: o choro foi a manifestação que você escolheu para o primeiro instante do seu nascimento. E assim também será quando você estiver prestes a dar o seu último suspiro.
Assim como a chuva equilibra as necessidades dos seres viventes, as lágrimas são o sal da terra que tempera o paladar de uma existência indiferente, apática e insípida.
Agora que a chuva parou, olhe de novo para fora. Examine se ficaram resíduos acumulados na vidraça. Observe mais de perto. Se você não estiver conseguindo enxergar com nitidez o que está do outro lado, as janelas da sua alma podem estar precisando de um polimento especial. Faça uso das suas lágrimas para esta tarefa. E, se necessário, sem moderação.