Pesquisar este blog

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O AR QUE EU RESPIRO

No ano de 2010, resolvi fazer o famoso trekking até o Campo Base do Everest, seguindo trilha a partir do Nepal. Sei que esta história já até virou rotina neste Blog, mas preciso dizer que, mais uma vez, não consegui encontrar um boa alma que encarasse a aventura comigo. Aliás, quanto a esta questão, devo admitir que, após repetidas experiências, tornei-me um pouco cética quanto à possibilidade de encontrar companheiros de viagem para as minhas escolhas. E, assim, passei a buscar eu mesma o que havia de disponível no mercado. É claro que esta viagem não pode ser realizada sem uma equipe. Tratei, então, de pesquisar as agências brasileiras que organizam grupos e, depois de alguns telefonemas, acabei fechando com a Venturas e Aventuras para a saída do mês de outubro daquele ano.
Meus dois joelhos são operados e tive receio de sentir dores no percurso, pois são muitas horas de caminhada durante aproximadamente dezesseis dias na montanha. Dediquei-me, portanto, um bom trabalho de isometria que deu muitíssimo certo.  Não senti nenhum incômodo. Além disso, rapidamente comprei uma bota para amaciá-la, o que se mostrou absolutamente essencial. E, ainda antes da nossa partida, tivemos uma reunião na agência de turismo para conhecermos os demais passageiros. O grupo era formado por cerca de doze pessoas avulsas, mas não necessariamente solteiras ou descasadas. O fato é que o gosto por este tipo de viagem é algo tão específico que, ao menos ali, não foi possível reunir sequer um casal. Os casados que havia seguiram sós com seus devidos alvarás conjugais.
A viagem até Kathmandu, Capital do Nepal, é bastante longa. Seguimos via Istambul, o que foi muito bom, pois, praticamente pelo mesmo custo, um outro país acabou por ser incluído no roteiro. É certo que não deu para conhecer muita coisa. A única pernoite, porém, me deixou com muita vontade de retornar à Turquia. De lá, seguimos para Delhi, onde tivemos mais uma noite antes de seguir a Kathmandu. E, desta Capital, pegamos aquele famoso aviãozinho que aterrissa em Lukla, aos pés do Himalaia, em uma pista de pouso curtíssima e que termina em inclinação ascendente para que a aeronave consiga frear a tempo de não deslizar para fora. E é ali, em Lukla, que a aventura propriamente dita se inicia.
A rotina dos dias na montanha é mais ou menos a seguinte. Suas pernoites são feitas em lodges, que são uma espécie de hospedarias muitíssimo simples. Nos primeiros vilarejos, ainda é possível que você consiga se alojar em um quarto com banheiro. Mas, conforme você vai avançando, esta comodidade simplesmente deixa de existir e, a depender do local, você poderá encontrá-la no fundo do corredor ou do lado de fora, a alguns metros de distância. A água quente é rara também e você tem que pagar por ela para utilizar um sistema de baldes. Abro aqui um parêntese. O frio que senti na montanha foi tão intenso e os banhos se mostraram tão desconfortáveis, que transformei este hábito em gênero de quinta necessidade. Que ninguém me ouça.
As paisagens do trajeto são exuberantes e você chega a se questionar se por acaso não mudou de planeta sem perceber. E o povo é tão simpático e amoroso que você se desconecta da palavra cansaço, mesmo após muitas horas seguindo a pé montanha acima.
É claro que a viagem não é fácil e que isso não é novidade para ninguém. Mas o ponto crucial do sucesso é mesmo a resposta do seu corpo à ausência de oxigênio. Com o passar dos dias, o ar realmente começa a faltar e coisas estranhas podem acontecer no seu organismo. No meu grupo, houve pessoas que não puderam prosseguir em razão de reações orgânicas que o conhecido "mal da montanha" acabou por provocar. Não senti efeitos impactantes no meu corpo, à exceção de uma crônica dor de cabeça e de algum mal estar à noite. Mas, bem ou mal, e com a ajuda de muitos comprimidos, acabei prosseguindo e cheguei até o meu objetivo. Depois disso, confesso, senti-me esgotada para começar a descida e, junto com outros dois companheiros de jornada, rateamos o custo de um helicóptero para antecipar o retorno a Kathmandu. Boa escolha.
Obviamente, é impossível narrar em uma única postagem tudo de bom e de ruim que acontece numa longa viagem. Mas o que eu quero deixar claro é que, apesar das adversidades, a jornada valeu muito a pena. Valeu apesar do desconforto, das restrições, das dores, do cansaço, do peito arfando, do frio, da comida, de pessoas não muito legais, de alguns guias despreparados e de muitas situações inconvenientes. Afirmo e explico: quando você se encontra em situações adversas, em que sequer o ar se acha convenientemente disponível, não há tempo para elocubrações. Os subjetivismos, as ponderações, as mágoas, as diferenças, a vaidade, a volúpia e toda a gama dos imponderáveis sentimentos humanos simplesmente desaparecem como em um passe de mágica. Na verdade, sob tais condições, tudo o que você deseja é viver e sobreviver. É incrível como uma mera viagem pode mudar a perspectiva de toda uma vida. No meu caso, esta percepção foi imediata e jurei a mim mesma parar de reclamar por qualquer bobagem ou insatisfação.
E embora eu não deva me intrometer na vida alheia, quando vejo alguém protestando e sofrendo inutilmente, minha vontade é de simplesmente dizer à pessoa: "você reparou que você está respirando?". É quase o que basta para que possamos permanecer de pé no planeta.
Sendo assim, quando você se sentir contrariada, respire, inspire, expire e relaxe. E você perceberá, então, que a salvação e a cura da sua alma podem, miraculosamente, residir no plano do próprio invisível. E, o melhor: sem necessidade de fé, crença ou religião.

(montanhas do Himalaia nas proximidades do Monte Everest - foto: acervo pessoal)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

UM SÁBIO CHAMADO TEMPO

Era uma vez um sábio chamado Tempo. Tempo era tão culto e erudito que, nos quatro cantos do mundo, era conhecido como o Senhor da Razão. Tempo não falhava. E também não faltava. Não falhava porque, mais dia, menos dia, as coisas confiadas a ele sempre acabavam por acontecer. E não faltava porque nunca se recusou a estar à disposição das coisas e das pessoas. Entretanto, apesar de sua notável perfeição e sapiência, Tempo nunca foi um ente muito bem compreendido e parte disso sempre se deveu à dificuldade de aceitar que, contra ele, não existem argumentos ou ações. Tempo é soberano e é praticamente intransponível.
Em um certo sentido, Tempo tem sido acusado de ser cruel e implacável. Através de seus olhos, é possível observar-se a beleza, a saúde e a vida se esvaindo até seu completo desaparecimento. E não há ninguém, nem ciência e nem religião, capaz de deter esta força. Questionado sobre tais angústias humanas, Tempo tem se limitado a responder que as coisas simplesmente são assim. E são assim porque nada no mundo é estático e porque o fluxo da vida segue em uma direção de mão única. Cada célula dos nossos corpos encontra-se em processo de envelhecimento desde ao menos o dia do nosso nascimento. E, se é assustador pensar assim, serve de alento o fato de que esta é uma verdade fisiológica universal, comum a todos os seres vivos.
Tempo tem explicado que, na vida, as coisas tem um começo, um meio e um fim e que acontecem como têm que acontecer, por razões muito intrincadas e complexas relacionadas com esta enorme teia de interações que rege o universo. Sendo assim, por mais que alguém se esforce, é impossível apreendê-las e retê-las.
Mas Tempo tem também um lado muito benevolente. É por meio de sua ação que a maior parte do sofrimento humano transforma-se em mera lembrança e é pela graça de suas mãos que uma enorme gama de problemas acaba se resolvendo de uma forma bastante natural e quase milagrosa. Tempo é curativo, eficiente e aliviador. Basta ter paciência, o que, entretanto, não parece ser muito fácil.
Em meio a dores e inquietações, o homem tem pressa em entender o que com ele se passa. Quer saber porque algo aconteceu ou deixou de acontecer, principalmente quando o resultado esperado não é atingido. Quer saber porque caiu, perdeu, fracassou, faliu, foi traído, foi trocado, foi ofendido, foi magoado, foi agredido, foi desrespeitado. Ingenuamente, procura conselhos e respostas imediatas. Ele ignora que a compreensão exata dos acontecimentos depende do Tempo. Após repetidas experiências, deveria ter a humildade de aceitar este postulado universal e simplesmente saber esperar.
Tempo também foi indagado sobre estas questões e sobre o funcionamento deste mecanismo. Ele ilustrou da seguinte maneira: "Imagine que você estivesse observando um enorme tabuleiro. Você concorda que seria possível, ao observador, explicar e prever as interações, os encontros e as quedas de cada um dos pequenos seres que caminham sobre a superfície? Ter esta visão é como conhecer o passado, o presente e o futuro".
Nós, seres humanos mortais, não possuímos este dom, pois fazemos parte deste tabuleiro. Nossa visão é muito parcial e limitada e não conseguimos olhar em todas as direções com o alcance necessário. Somos tão minúsculos em meio a aquela teia que nunca chegaremos a compreender todas as causas, consequências e condições.
Há, porém, a possibilidade de algumas respostas. Aguardando o necessário, poderemos olhar para trás e então, já com um certo distanciamento, conseguiremos ver com alguma clareza os caminhos percorridos até um determinado resultado. Esta é a bondade do Tempo. Se ele não nos confere a dádiva de antever o futuro, ao menos nos concede meios de compreender o passado e, consequentemente, o presente.
Se hoje você tem questões não respondidas, aguarde mais um pouco. Seja gentil com você mesma e com o Tempo. Não se agrida, não se torture, não se esgote. As respostas possíveis virão quando você tiver caminhado mais além e quando houver subido a montanha que lhe fará enxergar melhor os rastros da sua existência. E quando você tiver alcançado o topo de sua fé e da sua alegria, o Tempo, em sua ação que nunca falha, trará a cura e erguerá, com suas asas, o véu de muitos mistérios.

(Big Ben, Londres, UK - foto extraída de http://www.edwud.com/)

terça-feira, 15 de maio de 2012

NAS ASAS DA PAIXÃO

Se existe um assunto acertado em termos de satisfazer a curiosidade feminina, este tema é a paixão. Acho normal. As mulheres são seres apaixonados em sua essência e falar sobre a paixão é falar sobre algo que lhes é muito familiar e muito antigo. É claro que cada uma de nós tem a sua própria história. Mas é certo também que a primeira paixão nasceu muito cedo, quando éramos apenas meninas. Naquela época, a paixão que sentíamos dentro de nós provocava a mesma sensação que correr em meio a bosques floridos e caçar borboletas. Acreditávamos piamente que a paixão era capaz de transportar os nossos corpos franzinos e as nossas almas espevitadas para muito além do horizonte. O simples ato de observar o ser amado, mesmo que você estivesse escondida atrás de uma árvore a milhares de quilômetros de distância, era como respirar o mais inebriante perfume de sândalo. E um mero olhar do seu principezinho já era suficiente para você se sentir flutuando em um tapete mágico a milhas e milhas de altitude. E, o melhor: sem nunca sentir vertigens ou medo de cair.
Então você virou moça. Neste momento, apenas contemplar o ser amado já não era mais suficiente. Foi quando surgiram, então, as suas primeiras interações, ainda muito desajeitadas e tímidas. O rubor na face era natural. Nenhuma de nós precisava de maquiagem. O que precisávamos, isso sim, era ensaiar palavras na frente do espelho e descobrir em nós mesmas uma coragem assustadoramente poderosa para estabelecer alguma espécie de contato. Como a grande maioria das primeiras paixões, a minha também foi platônica e não correspondida. Agora eu sentia, pela primeira vez, a flecha atravessando o meu coração. Eu nunca havia sentido uma dor assim. Meu grande amigo era meu diário, cuja capa cor-de-rosa era fechada com uma chavezinha dourada. E era para ele que eu dirigia as minhas preces, fazia as minhas promessas e contava os meus progressos na arte da sedução. Meu diário nunca me recriminou. Calado, aceitou tudo aquilo que eu impus a ele com minha letra perfeita e também tudo aquilo que eu impus a mim.
Então virei mulher. Costumo ser muito franca e aberta com relação aos meus sentimentos e à minha intimidade. Sinceramente, não tenho problema algum em falar sobre a minha vida. Mas existe uma única coisa que às vezes ainda me faz corar. Incomoda-me um pouco lembrar de todas as coisas insanas e sem sentido que, ao longo da minha existência, eu fiz em nome do que eu achava que era amor. Fosse amor de verdade, não teria sido assim. Os atos impensados, a fragilidade, o destempero e o desequilíbrio são típicos, na verdade, de um estado de paixão. Se eu tivesse sabido antes, teria feito diferente. Mas eu estava equivocada. Para mim, tudo aquilo era amor. E se até Fernando Pessoa teria dito que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena", quem era eu para discutir?
As paixões não fizeram estragos significativos na minha vida, mas deixaram marcas indeléveis no meu ser. Valeram a pena no momento em que existiram, mas tenho que admitir que o preço pago foi altíssimo em termos de auto-respeito, de auto-controle e de auto-estima. Nos momentos de paixão, sufoquei minha vontade de voar e, voluntariamente, amarrei pesos nos meus pés. Minhas asas se ressentiram e eu não me importei. Em parte, abri mão de mim mesma e corri o risco de que elas se atrofiassem para sempre.
Felizmente, a natureza possui uma inacreditável capacidade auto-curativa e minhas asas se recuperaram e me remeteram àquela época em que eu bebia água nas nascentes e colocava margaridas nos cabelos.  Mas tudo agora era diferente. Com o tempo, veio a consciência de que eram os meus próprios pés que me moviam e que, para voar de verdade, eu teria que exercitar as minhas asas. E comecei a tatear esse terreno, experimentando aqui e acolá as minhas novas descobertas. Demorei muito, mas muito mesmo, para ter a segurança de me elevar um pouco além. Eu sabia que um vento mais forte poderia facilmente me derrubar.
Mas eu não desisti. E, aos poucos, eu fui mudando como um pássaro migratório, que intuitivamente sabe para onde se encaminhar. Em parte, tenho saudade das piruetas, das manobras radicais e até mesmo dos pousos forçados. Mas, em parte, prefiro seguir em velocidade de cruzeiro, observando meu caminho com atenção e sabendo distinguir quem são os predadores e quem são os companheiros.
Ninguém pode dizer que não beberá da água de um determinado rio. Principalmente, se você se vir sozinha em meio a um deserto árido. Sendo assim, hoje eu prefiro abastecer os meus próprios cântaros e minimizar os meus riscos.
Pode parecer covardia. Mas pode ser também que a isso se chame paz. Os voos serenos têm valido muito a pena em minha vida e têm me poupado muita energia. Certa ou errada, com razão ou sem razão, acredito que, desta forma, poderei ir ainda mais longe. E ter muitas outras histórias e finais felizes para contar.

(pássaros migratórios na Alemanha - foto extraída de http://www.nationalgeographic.com/)

sábado, 12 de maio de 2012

NASCIMENTOS E RENASCIMENTOS

No momento do parto nascem dois seres: o bebê e a mãe. E, a partir de então, o choro de um é o choro do outro por toda a eternidade. Antes do nascimento, a mãe tecnicamente não existe. Ela nasce somente quando seu filho chega ao mundo e, por esse motivo, a gestação deve ser considerada uma maravilhosa fase da vida porque permite o nascimento de ao menos duas pessoas. O filho e a mãe, naquele momento, nada sabem sobre os meios de enfrentar o desafio de vivenciarem suas novas experiências.
Por mais vivida que uma mulher possa ser, ela é um recém-nascido quando se trata do instante em que ela ouve os sons do seu filho pela primeira vez. Uma mulher só conhece os sentimentos reais da maternidade quando se torna mãe. É claro que uma mulher que não tem filhos compreende, empiricamente, tais dores e prazeres. Porque cada mulher é, antes de tudo, também uma filha. Mas a essência das razões para cada ato afeto àquela condição é privativa e exclusiva daquela que gerou um filho. 
De uma certa forma, quando nasce a mãe morre algo na mulher. A definição não é precisa, mas o que eu estou tentando dizer é que as alterações das prioridades ocorrem de modo tão profundo que parte da qualidade feminina não pode ser exercida. Enquanto um filho é dependente de sua mãe não existe campo para o exercício integral dos atributos do feminino. Mas as experiências que decorrem da maternidade são tão ricas e inebriantes que a mulher sequer considera que tal modificação, em outro contexto, poderia ser considerada uma perda. Para a mãe, todos os atos em prol de seu filho são ganhos inquestionavelmente significativos. E, assim, a mãe prossegue na saga de criar o seu filho, de amá-lo, honrá-lo e ensinar a ele tudo o que for da esfera de seu conhecimento.
Mas a vida não é um vetor voltado para uma única direção. A mãe também aprende com seu filho e, nesse sentido, dele também é filha. E esta concessão, porque aparentemente surpreendente, aumenta ainda mais o sentimento de admiração que uma mãe pode ter por seu filho. De uma certa maneira, o filho já se fez e, graças ao que ele pôde aprender por si próprio, em tenra idade já é capaz de ensinar.
O tempo passa e o filho cresce e haverá um momento em que ele não mais será dependente de sua mãe. Este momento não é necessariamente definido pela independência econômica ou por conta da superação de conhecimento do filho em relação à sua mãe. Reduzir esta premissa aos pobres parâmetros da capacidade financeira e do aprendizado é menosprezar a complexidade desta relação. Não sei definir o momento em que isso acontece, nem como filha, nem como mãe. Mas é inequívoco que certos distanciamentos, em alguns momentos da vida, produzem profundo impacto, tanto na mãe quanto em seu filho.
De uma certa forma, há um tempo em que o filho passa a fazer as coisas por si mesmo e a presença física da mãe já não é uma necessidade estrutural e orgânica. Não se pode dizer que isso seja bom ou ruim. É apenas a constatação do fluxo natural da vida, que deve ser aceito com a naturalidade de quem compreende as quatro estações do ano. Este ciclo existe e pouco importa que você ame o verão e deteste o inverno. Sua opinião não é relevante para as leis da natureza.
Mas tudo o que muda e morre propicia o renascimento. E este renascimento não significa a morte da mãe. Ao contrário, ele exprime a beleza da transformação da paisagem do tempo. As flores nascem viçosas após o derretimento da neve.
Neste Dia das Mães, eu desejo a todas as mães do mundo e a mim mesma a compreensão das estações da vida. Desejo que cada uma das mães bem conheça estes ciclos de nascimento e de renascimento. Desejo que, em gratidão à dádiva desta qualidade, cada mãe bem exerça o papel de geradora de filho, de mãe e de mulher. Porque dar à luz um filho é dar à luz a sua própria pessoa. E desejo, por fim, que cada mãe tenha em mente que as alternâncias das estações representam, em última instância, o desenho da própria eternidade.

(foto extraída de http://www.picturesofwinter.net/)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O BEM, O MAL E O FIM

Muitas vezes já me peguei pensando nas minhas atitudes sobre a face da Terra. Embora eu tenha uma quantidade bastante razoável de defeitos, é claro que não me considero uma pessoa ruim ou má. Mas também disso não tenho certeza, pois tenho que contar com a possibilidade de que minha própria falta de modéstia, que é tecnicamente um pecado capital, tenha me levado a essa otimista conclusão. Mas esse auto-juízo não é privilégio meu. Em um julgamento superficial e sem qualquer base científica ou estatística, posso afirmar que a  grande maioria das pessoas se considera bastante aceitável sob a ótica ética e moral. E quando você vai a fundo para investigar as razões desta avaliação benevolente, acaba encontrando sempre uma resposta muito parecida: "não faço mal a ninguém".
Não tenho grande conhecimento sobre a evolução do estágio psíquico, emocional e espiritual do homem através dos tempos. Mas qualquer um que tenha frequentado a escola pode identificar, sem nenhuma dificuldade, inúmeros exemplos de atrocidades cometidas ao longo da história da humanidade desde eras imemoriais. Sendo assim, embora não se possa afirmar com certeza que o homem de hoje seja dotado de bondade relevante, também não se pode asseverar que os espécimes anteriores tenham sido melhores que os atuais. E postos assim o postulado e a conclusão, o que se pode perceber é que, ressalvadas algumas poucas variáveis, o homem tem se mantido o mesmo em termos de caridade e benevolência, em comportamento absolutamente deficitário com relação aos mais elementares paradigmas filosóficos.
Dante Alighieri nasceu em Florença, Itália, no ano de 1265. Morreu cinquenta e seis anos depois e, desde então, tem sido considerado o maior poeta da língua italiana. Sua principal obra foi a famosíssima "Divina Comédia", consistente em um poema escrito em dialeto local com estrutura épica e propósitos éticos. Divide-se em três partes, tais sejam o Inferno, o Paraíso e o Purgatório. A composição formal da obra baseia-se na simbologia do número três. Há três personagens principais: Dante, Beatriz e Virgílio, que representam, respectivamente, o homem, a fé e a razão. Cada estrofe tem três versos e cada uma de suas partes contém 33 cantos. E cada um dos três lugares são compostos por nove círculos, em uma fórmula matemática auto-explicativa.
A obra é complexa e parte de sua beleza se perde se você não tiver familiaridade com o idioma original. Não li a "Comédia" por inteiro, mas ouvi falar de um trecho que me chamou muito a atenção. Explico antes como é estruturado o Inferno. Formado, como dito, por nove círculos concêntricos, cada um destes trata de uma categoria de pecados e de pecadores. Isto é, dependendo da natureza do pecado, o morto permanece em um determinado círculo. Por exemplo, se você for um herege, seu lugar é no Sexto Círculo, conhecido como Cidade de Dite. Se você, diferentemente, for um traidor, será acomodado no Nono Círculo, também nominado Lago Cocite, sendo que, a depender da qualidade do traído (parente, pátria, hóspede, mestre ou rei), você deverá enfrentar uma Esfera específica.
Pois bem. A par destes Nove Círculos que bem descrevem a metodologia e critério do destino destas almas, o autor dedicou-se a explicar o que ele chamou de "Vestíbulo do Inferno" ou "Ante-Inferno". Em sua odisséia subterrânea, os personagens deparam-se com almas desesperadas, correndo de um lado para outro. E indagando o Mestre, este respondeu ao interlocutor que aquele local era destinado às almas que não podiam ir nem para o Paraíso e nem para o Inferno. Elas não eram ruins o suficiente para sofrerem em algum dos Nove Círculos após transporem o Portal. Por outro lado, também nada haviam feito de bom que ora justificasse o seu ingresso no Paraíso. Faz sentido. E faz mais sentido ainda pensar que, mesmo já nesta complicada situação, estas almas também merecessem sua própria punição.
Para Dante, as escolhas na vida determinam recompensas, positivas ou negativas. Ademais, quem se recusa a escolher é porque escolheu própria indecisão. E porque esta pessoa escolheu a indecisão deve ser tida por covarde. E porque é considerada covarde deve pagar por isso, correndo em filas atrás de uma bandeira e sendo perseguida por vespas e moscões. Assim funciona a morte naquele patamar.
Não sei o significado da bandeira e muito menos dos insetos no contexto da obra. De toda forma, parece intuitivo concluir desta passagem que não fazer o mal em nossas vidas não é lá grande coisa se você sempre tem a opção de praticar o bem. É quase como dizer que não fazer o mal não representa mérito algum, já que é mera obrigação.
Refletindo sobre isso, passei a reavaliar os meus conceitos sobre mim mesma. Tive de recuar em minha presunção de que ser inofensiva era o que me bastava. E vou ter que me dedicar a examinar esta questão da caridade com um pouco mais de atenção.
Como todos sabem, o bem e o mal possuem consequências. Eu mesma sou da opinião de que "aqui se faz, aqui se paga". Porém, o que desejo destacar é que a apatia, a inação e a indecisão também pagam o seu preço, quer você seja religioso ou não. Pois assim como a maldade e a bondade podem encontrar eco nesta nossa vida cotidiana, a indiferença também há de produzir resultados em nossa existência.
Sendo assim, termino esta postagem como um conselho, que, embora não pedido, ouso dar à leitora, quiçá como uma tentativa de primeiro ato de bondade: além de não fazermos o mal, que tal tentarmos fazer o bem?

(Ponte Vecchio, Firenze, Itália - foto extraída de https://www.google.com.br/)

terça-feira, 8 de maio de 2012

NA TERRA DAS FADAS

Esta semana ganhei um presente muito especial do meu pai. Um livrinho sobre mitologia. Na verdade, ele é uma espécie de dicionário em que você pode encontrar, pelo nome, os principais personagens das maravilhosas histórias lendárias que se desenvolveram no berço da cultura romana, grega, egípcia, nórdica e celta. Imediatamente fui em busca de meu próprio nome e pude reviver, com emoção, aquilo que eu já sabia mas que se encontrava adormecido em mim há muitos e muitos anos: os fantásticos relatos sobre Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.
De acordo com histórias medievais e romances contados através dos séculos, Arthur teria comandado, juntamente com seus fiéis cavaleiros, a defesa contra os invasores saxões chegados à Grã-Bretanha no início do século VI. E ele teria, também, sido aconselhado por Merlin, um sábio mago que, segundo tais relatos, conhecia todos os segredos do céu e da terra, da vida e da morte, dos homens e dos deuses. E muito embora tenha sido atribuída a Merlin a fama de feiticeiro, contam os entendidos que ele, na verdade, pretendia apenas assegurar a paz entre os povos. As histórias arturianas são tão ricas em detalhes que muitos acreditam que se trata de relatos absolutamente verídicos.
Dizem também estas histórias que o famoso círculo de pedras britânico teria sido construído por Merlin, o qual teria providenciado, no ano 300 A.C, o seu transporte, pelo ar, desde o País de Gales. Mas se Merlin era dotado de poderes especiais, tinha também seu lado humano. E foi assim que ele teria se apaixonado por Viviane, também conhecida como "A Senhora do Lago". E tamanha teria sido tal paixão que Merlin, cego de encantamento, teria entregue à sua amada todos os segredos que ele, até então, guardava com absoluta exclusividade. Viviane era filha de Diana, a deusa dos bosques, e irmã mais velha de Igraine, mãe de Arthur. E foi nesta condição de tia que Viviane teria concedido a Arthur a famosa Excalibur. Este importante ato teria acontecido em Avalon, sagrada ilha bretã regida por sacerdotisas. A famosa Fada Morgana era meia-irmã de Arthur e teria sido treinada por Viviane para sucedê-la em sua missão de assegurar a paz e a sabedoria, tornando-se a nova líder desta terra insular.
Ao que consta, estas narrativas, embora não verdadeiras, guardam estreita relação com as antigas cultura e religião celtas. Historicamente, a expressão "celta" é a designação dada a um conjunto de povos organizados em múltiplas tribos pertencentes à família linguística indo-européia e que se espalhou pela maior parte do oeste da Europa a partir do segundo milênio antes de Cristo. Tal etnia, assim definida como os povos que falavam o idioma celta, transmitiu a sua história através das tradições e do folclore. Pouco se escreveu a respeito e o que se sabe destes grupos deveu-se à mera perpetuação dos costumes.
Os celtas exaltavam a força da Terra e a natureza era considerada a expressão máxima da Deusa-Mãe. Embora a sociedade não fosse rigorosamente matriarcal, as mulheres possuíam grande importância em sua dinâmica e funcionamento, na medida em que a Divindade Superior era um ente feminino. E tanto as forças do Universo regiam suas crenças que os celtas não construíam templos. Suas reverências aconteciam nos bosques para propiciar a adoração aos vários elementos da natureza. Infelizmente, a religião celta perdeu-se no tempo. As reminiscências que ficaram resumem-se basicamente à wicca e suas derivações, as quais ostentam conteúdo pagão e incluem rituais de bruxaria. Seus princípios originais e sua essência primeira não permaneceram.
Em pouco mais de um mês, visitarei a Grã-Bretanha e se eu tiver tempo, visitarei alguns locais importantes da história celta. Pretendo ir a Stonehenge e contemplar de perto esta misteriosa obra. Pretendo comprar alguns livros. Pretendo conversar com as pessoas locais para compreender um pouco melhor estes povos. Com sorte, conseguirei.
É claro que sei que todas estas histórias fantásticas são lendas. Mas, mesmo assim, gosto de pensar que a sacerdotisa-maior de Avalon se chamava Viviane e que foi ela quem, tal como uma fada, entregou a espada mágica para seu sobrinho Arthur. Gosto também de imaginar as aventuras vividas por Merlin e sua amada quando teriam percorrido toda a Europa no dorso de um cavalo. E gosto de reproduzir em minha mente como seriam as visitas às florestas para homenagear a mãe-natureza.
As lendas são maravilhosas e nos fazem sonhar. São estas histórias que fazem a nossa imaginação funcionar e que giram a engrenagem do mundo.  Estas narrativas resgatam a doçura dos antigos tempos e a força de um ser humano impulsionado pela honra e pela coragem. Heróis e princesas fazem falta nos dias de hoje. E por isso mesmo os Contos de Fadas são tão interessantes e fascinantes: eles nos fazem acreditar na existência de um mundo melhor, em que a paz possa reinar.
E, pensando agora, talvez seja a esta a razão pela qual estes relatos místicos ainda existem de forma a sobreviver à própria realidade.

(Stonehenge, Great Britain - foto extraída de http://turismo.culturamix.com/)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

AS MARCAS DO CORPO E DA ALMA

Em uma sexta-feita ensolarada do último mês de fevereiro, decidi fazer um passeio de barco na maravilhosa praia de Waikiki, em Honolulu, Capital do Havaí. O catamarã escolhido se chama Mana Kai e costuma ficar ancorado bem no meio da praia, exatamente em frente ao hotel em que eu estava hospedada, o Aston Waikiki Beachside. O passeio dura cerca de uma hora e por meros US$20 você tem uma excelente visão de toda a costa.
Subi na pequena embarcação e ao meu lado sentou-se um americano de meia-idade que se dizia amigo do dono. Como o proprietário do barco não se achava a bordo, não pude aferir a veracidade desta informação, a qual, honestamente, era completamente irrelevante. Cerca de dez minutos depois, o barquinho saiu e comecei a ver, à distância, os contornos urbanos e naturais daquela ilha tão especial, verdadeira pérola flutuando sobre o Oceano Pacífico.
Em um dado momento, o tal americano me perguntou sobre uma cicatriz vertical nas minhas costas, ao que, sem qualquer problema, expliquei a ele que havia me submetido a uma cirurgia no mês de maio do ano passado para a retirada de uma hérnia extrusa. Ele reparou também que eu tinha cicatrizes nos meus dois joelhos. Contei a ele, então, que tive que fazer uma correção cirúrgica na rótula esquerda e que havia retirado o menisco do joelho direito devido a uma lesão por sobrecarga de esportes.
Costumo ter muita paciência e tolerância com as pessoas e, embora tenha achado de péssimo gosto a piada do americano, não deixei de aproveitar o momento e sentir a brisa fresca no meu rosto. O americano havia me chamado de Mrs. Frankenstein e comentado o fato com os outros passageiros.
Fiquei pensando, então, naquelas minhas cicatrizes pelas quais tenho muito amor e respeito. E cheguei até a achar engraçado que eu tivesse merecido o deselegante apelido mesmo sem que ele tenha contabilizado as outras marcas do meu corpo, pois, além daquelas três, tenho ainda a cicatriz da cesariana e de uma mamoplastia que fiz aos dezoito anos para a redução dos meus seios.
As cicatrizes do meu corpo contam a história da minha vida e, para mim, são muito belas. Cada uma delas representa um importante acontecimento e todas elas podem ser consideradas como marcos de mudanças sem as quais eu não teria crescido e me tornado a pessoa que hoje eu sou. Sinceramente, não compreendo como uma pessoa pode se envergonhar dos desenhos que narram a sua própria existência.
E assim também são as cicatrizes da alma. Elas fazem a narrativa do seu desenvolvimento como ser humano. As quedas, derrotas, insucessos e fracassos deixam vestígios indeléveis que jamais serão apagados, já que o passado ninguém pode mudar. Mas no presente eles são indolores e inofensivos. E por isso mesmo estas marcas são tão maravilhosas e ali devem permanecer.
As feridas do corpo e da alma doem, latejam, cortam, ardem, sufocam, queimam e merecem ser cuidadas. Já as cicatrizes não provocam mais nenhuma sensação de desconforto. São apenas os traçados da sua própria jornada.
Amo as minhas cicatrizes. As do corpo e as da alma. Quando penso nelas, posso me recordar, sem sofrimento ou vergonha, de tudo o que aconteceu e de como as intervenções em cada qual das lesões foram bem sucedidas. Nunca pensei em corrigi-las ou escondê-las. Ao contrário, tenho orgulho delas e dos episódios relevantes que elas ainda contam.
A navegação seguiu como prevista e, ao desembarcar segura nas brancas areias da praia, tive a sensação de que durante o passeio aprendi mais uma importante lição. Nossas vidas deixam rastros visíveis que podem incomodar. Por outro lado, eles sinalizam também qual o trajeto percorrido até aqui e como nos saímos até então. Podemos, então, desta maneira, saber se estamos no caminho certo rumo ao próximo  porto ou se ainda há algo, lá atrás, que precisa de cuidado e atenção.
E agora você já sabe. Quando as suas feridas finalmente viram cicatrizes você torna-se vitoriosa de si mesma e preparada para novos voos. Já não há dor. Somente lembranças. Já não há sofrimento. Apenas recordação. E então você pode seguir em frente, mais uma vez, sabendo que sempre há o risco de outros acidentes e quedas. Mas também com o conhecimento e com a convicção de que sempre há a possibilidade de satisfatória recuperação.

(Waikiki Beach, Honolulu, Hi, - foto extraída de http://www.orbitz.com/blog/)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

AS BODAS DE LAXMI

No ano de 1995, eu me divorciei após sete anos de casamento e outros cinco de namoro. Às vezes eu me pego pensando nesse acontecimento e parece que foi ontem. É incrível como o tempo voa. Às vezes, porém, parece que faz uma eternidade que tudo aquilo aconteceu e chego a duvidar que tenha sido nesta mesma vida. É inacreditável como em alguns anos somos capazes de mudar tanto. De todo modo, o que é maravilhoso é que este é um assunto totalmente superado e com relação ao qual não existe qualquer mágoa, culpa ou raiva. Aliás, chega a ser interessante observar que, passados todos estes anos, as razões propriamente ditas sequer importam mais. Importa apenas como estamos nos sentindo e vivendo cada dia de nossas vidas.
Naquele mesmo ano em que assinei os papéis do meu divórcio, Laxmi Sargara se casou. Laxmi é uma linda indiana, do Estado do Rajastão, que, na data do seu casamento, contava com apenas um ano de vida. Seu noivo, Rakesh, havia nascido dois anos antes dela.
Apesar de casada, Laxmi sempre morou com sua família. Na verdade, ela teve uma infância e uma adolescência absolutamente normais, até que, este ano, ao completar dezoito anos de vida, descobriu seu verdadeiro estado civil. Isto ocorreu quando seus sogros, pais do agora rapaz de vinte e um anos, foram reivindicá-la para a consumação do matrimônio. Laxmi, atônita, não concordou e passou a traçar o seu novo destino
Pelo que sei, os casamentos entre crianças são proibidos na Índia desde pelo menos a década de 20. Mas, ao que parece, isso lá não tem a menor importância. Só no Estado de Laxmi, o Rajastão, quase 10% das crianças casam-se antes de completarem dezoito anos de idade, sendo que, segundos dados da Unicef, 40% dos casamentos do mundo nesta condição acontecem naquele País.
A despeito deste cruel costume arraigado na pequena comunidade em que Laxmi vivia, ela achou melhor buscar um caminho alternativo. E, assim, fez jus a seu próprio nome, que, para os hindus, é a divindade que melhor representa a potência feminina. A adoração à deusa Laxmi (ou Lakshmi) inclui acreditar que é ela quem concede aos mortais a força e a coragem para enfrentar qualquer sacrifício.
Laxmi entrou em depressão, mas saiu dela e, com dignidade, honrou seu nome e a conotação de seu significado. Sem o suporte de sua família, buscou uma ONG local, a Sarathi Trust, sediada na cidade de Jodhpur, que providenciou um representante para interceder junto a Rakesh.
E foi assim que ambos, juntos, assinaram uma declaração juramentada perante o Tabelião daquela cidade. E foi assim que este ato formal, ocorrido em 25 de abril de 2012, tornou-se a primeira declaração de nulidade de casamentos realizados entre crianças na história daquele povo.
Como todas nós sabemos muito bem, todos os rompimentos de laços são significativos em nossas vidas e normalmente vêm acompanhados de dor. No caso de Laxmi, porém, a dor maior seria ceder a aquela imposição, até porque afeto propriamente dito não havia. E, por outro lado, a dor que ela poderia sentir, relacionada a todos os obstáculos que deveria enfrentar, foi por ela considerada muito menor do que o desgosto de viver em desacordo com sua vontade e com sua liberdade de escolha.
Laxmi agora é uma moça livre que poderá casar-se com quem quiser e se quiser. É também um claro exemplo de auto-respeito e de coragem. E, transcorrida apenas uma semana desde aquele feito, já pode também ser considerada um símbolo de determinação e de ousadia. A vida de Laxmi está começando agora. Mas, ao menos para mim, já é uma existência a ser reverenciada e a ser seguida.

(Taj Mahal, Agra, Índia - foto extraída de https://www.google.com.br/)