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domingo, 1 de abril de 2012

ALOHA, HAWAII, MAHALO

Considero que a imaginação das pessoas seja uma de suas potencialidades mais vigorosas. Não sei se isso acontece por causa de nossos referenciais pessoais ou porque a natureza, em ato de extrema de generosidade, simplesmente dotou o ser humano de infinita capacidade de ver o que não existe, seja no passado, no presente ou no futuro.
Quando eu desenhei minha última viagem, esquadrinhei tudo o que estava a meu alcance, de modo que, quando cheguei a meus destinos, tinha já uma ideia bem clara e precisa do que eu encontraria por ali. E assim foi ao longo de toda a Costa da Califórnia e também em Las Vegas, lugares em que senti extrema familiaridade e conforto, porque eles não destoaram muito daquilo que eu visualizei que poderia encontrar.
Em Honolulu, porém, não foi assim. Muito diferente daquilo que imaginei, não fui recebida com colares de flores, músicos e saudações ao chegar ao movimentado Aeroporto. Ao contrário, tudo o que se via eram turistas estressados, correndo de um lado para outro, e uma infindável multidão de pessoas trajando camisas floridas abordando você para levá-lo até Waikiki, região onde se localizam os principais hotéis. E foi assim que contratei a SpeediShuttle para me levar até meu destino, o Aston Waikiki Beachside Hotel, por baratíssimos US$13. A van era conduzida por uma motorista muito inexperiente, que tentava ser simpática com os demais passageiros, que, exaustos como eu, não queriam ver nada durante o traslado e que só pensavam em se livrar das malas num confortável quarto de hotel. Ela, insistentemente, dizia "Aloha" e nos pedia, tal qual em uma excursão de colégio, para que repetíssemos a saudação, alegres e entusiasmados. Não satisfeita, ela perguntava: "Vocês estão em Honololu. Não estão super felizes?". Quem já não estava com excelente humor, como eu, teve sua condição significativamente piorada, o que, em meu caso particular, também se justificou pelo fato de que a motorista teimou em me deixar em outro hotel da mesma cadeia, o Aston Waikiki Beach Tower, praticamente me colocando para fora da van na rampa de acesso. Infelizmente, tive que discutir com ela, ao que ela retrucava dizendo que aquele era o único Aston de Waikiki. Eu, que não moro lá nem nada, já sabia que existem dezenas de "Astons" naquele Estado e naquela cidade.
Foi só quando a levei até o concierge do hotel errado que ela se convenceu de que aquele não era o meu destino. E subimos novamente na van até o correto desembarque. No caminho, ela considerou relevante dizer-me que as duas palavras mais importantes da ilha eram a já mencionada "Aloha", que é uma espécie de coringa que serve para quase tudo, e "Mahalo", que significa "Obrigado". Ok. Ao descer no hotel correto, falei o recém aprendido "Mahalo", que, obviamente, veio desacompanhado da esperada gorjeta.
O hotel era muito bem localizado, em frente ao melhor ponto da praia. Mas o quarto que eu recebi não era tão bom assim, pelo simples fato de que não tinha janelas externas e apenas uma espécie de vitrô que dava para um corredor. Sinceramente, achei um desaforo estar em Waikiki sem poder respirar a brisa do mar e, felizmente, consegui um quarto muito melhor, sem qualquer acréscimo. E ali fiquei por quatro noites.
Saí para caminhar, para comer e para escolher o que eu faria no dia seguinte e, miraculosamente, tudo foi se acalmando. Às vezes, as chegadas são conturbadas assim mesmo. Mas depois que eu tomo uma coca-cola  diet ou um café, e paro para respirar e pensar onde estou e que consegui chegar sozinha até lá, tudo fica mais ameno.
É sempre assim. E é por isso mesmo que não me importo nem um pouco de viajar sozinha. Depois da confusão, sempre vêm incontáveis benesses. E é por isso também que jurei a mim mesma nunca vou parar de voar. Pode parecer que não, mas isto também é um treino incrível para seu aprimoramento pessoal. Você desenvolve sua paciência, sua capacidade de resolver problemas e sua habilidade em lidar com frustrações e desilusões. E a gente acaba usando tudo isso no nosso cotidiano, porque a vida é mesmo uma sucessão de fatos que nos iludem, nos enganam e nos desapontam. E quando eles se mostram como realmente são, é aí que você põe à prova a sua aptidão para enfrentá-los sob a roupagem da realidade. E se você conseguir ser feliz neste ponto, isto significa que literalmente transcendeu, no sentido de que passou por todas as dificuldades até atingir um real contentamento. As viagens nos fazem crescer. As viagens nos tornam preparadas. As viagens ensinam muito sobre o viver. Acredite ou não, aceite ou não, isto é quase uma forma de espiritualidade.

(Sunset em Waikiki, Honolulu, Hi, Usa - foto extraída de http://blogviagens.com/