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quinta-feira, 26 de abril de 2012

AS RAZÕES DE UMA ROSA

Em exatos trinta dias, partirei para uma jornada inteiramente nova e desafiadora. Fui aprovada para cursar o Mestrado em "Comparative Law", que terá lugar na Universidade de Samford (USA) e na Universidade de Cambridge (UK). Embora estas últimas semanas tenham sido corridíssimas, já que agreguei à minha rotina muitas aulas de inglês jurídico e estudos direcionadas, posso dizer que estou longe de um estado de exaustão. E isso porque estou muito animada com este mais novo projeto de vida. Vou fazer o chamado "Programa de Verão", de modo que condensarei todos os créditos do Mestrado em quatro meses (junho/ julho de 2012 e 2013), em sistema de regime praticamente integral de aulas. E como o escopo do curso é o estudo comparativo da normatização constitucional americana e europeia, passarei os meses de junho nos Estados Unidos e os meses de julho no Reino Unido.
A sede da Universidade de Samford fica no Estado do Alabama, mais precisamente em Birmingham, que, por sua vez, fica a 137 km da Capital, Montgomery. Quando recebi a brochura do curso, percebi que não tinha uma noção muito clara de onde ficava este Estado e fiquei pensando se seria mesmo uma boa opção concorrer a uma vaga. Constatando, porém, que metade do curso seria em Cambridge, considerei que já valeria a pena tentar e, assim, acabei fazendo as provas de admissão e sendo aprovada em terceiro lugar.
Comecei, então, meu específico preparo, que incluiu uma pesquisa preliminar sobre o tema da minha tese futura e que certamente abrangerá alguns estudos mais aprofundados sobre os direitos fundamentais do ser humano. E, assim, a par do meu trabalho cotidiano e de todas as minhas demais atividades, venho me dedicando também a esta viagem.
Três dias atrás, após cerca de três horas de concentrada pesquisa sobre o tema do trabalho, resolvi fazer uma pausa e comecei a pinçar algumas informações sobre o meu destino. Logicamente, fui primeiro ao mapa dos Estados Unidos e, depois, passei a aferir aqueles óbvios dados concernentes à demografia, geografia, economia e história. E, em meio à clássica navegação pelos tópicos da Wikipedia, tive o prazer incomensurável de deparar-me com a Sra. Rosa Louise McCauleya, conhecida como Rosa Parks, nascida na Capital do Alabama em fevereiro de 1913 e falecida em Detroit em outubro de 1995. O que tornou esta mulher tão conhecida foi um fato ocorrido dentro de um ônibus no dia 1o. de dezembro de 1955, quando ela se recusou a ceder seu lugar a um passageiro branco que seguia no interior do coletivo. Rosa foi presa e acabou sendo liberada mediante o pagamento de fiança. E o mundo mudou a partir de então. A comunidade negra local indignou-se com a prisão da costureira e um jovem e desconhecido pastor protestante foi convidado a liderar um boicote ao transporte coletivo pelo período de 24 horas. Nem Rosa e nem seu colega pastor, que atendia pelo nome de Martin Luther King Jr., imaginaram que esta singela ação perduraria não por um, mas, sim por exatos 381 dias, e que desencadearia o mais significativo movimento anti-segregação racial já visto na América.
Três anos antes de sua morte, Rosa deu uma entrevista na qual justificou sua atitude dizendo que, naquele dia, seus pés estavam doendo. Ela acrescentou também que, a despeito da legislação vigente na época, simplesmente sentiu que tinha o direito de permanecer ali e de ser tratada como qualquer outro passageiro.  De uma certa forma, Rosa estava em sintonia com o que seria dito em Washington, em 1963, quando o pastor, ao tratar da união e da coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro, pronunciou a célebre frase que o tornou universalmente conhecido. 
Ao que parece, Rosa, oito anos antes, também já tinha o seu sonho, que, para ela, transformou-se em realidade sem que precisasse pegar em armas ou gritar em praça pública. Sua voz silenciosa foi além e suficiente a cessar uma tradição de desigualdade. Rosa nunca foi vaidosa e nunca se despojou de sua simplicidade, nem mesmo quando, já célebre, ainda atribuía a seu cansaço um ato que veio a mudar a história da humanidade. 
Se Rosa estivesse viva, eu levaria rosas a ela na minha chegada ao Alabama. Terei o máximo prazer, porém, de me esforçar em manter viva a sua memória e de homenageá-la por ocasião da apresentação de minha tese final. Rosa Parks é um nome a ser eternamente reverenciado para jamais ser esquecido. E para ser invocado a nós mesmas em todos os dias das nossas vidas. 

(Nike of Samothrace - Jasmine Hills - Montgomery, Alabama - foto extraída de http://davidrwetzelphotography.wordpress.com/)