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sexta-feira, 2 de março de 2012

DESGRAÇA POUCA É BOBAGEM

A postagem anterior dedicou-se a narrar alguns fatos não muito agradáveis ocorridos na última viagem. Infelizmente, porém, há mais alguma coisa que preciso compartilhar com vocês. E antes que minhas amigas me digam que não acompanham o blog para se aborrecer ou para se preocupar, menciono, desde logo, que esta é, definitivamente, a minha última referência negativa desta jornada. Pode acreditar que, fora estes acontecimentos, a viagem foi pura alegria.
Meus voos São Paulo/Los Angeles/São Paulo foram feitos com milhas junto à United Airlines, que agora pertence a uma holding que engloba a Continental Airlines. Para chegar a Honolulu, de lá seguir para Nadi (Fiji Islands) e então retornar a Los Angeles, comprei as passagens pela Decolar. Eu viajaria pela própria United de San Francisco a Honolulu e, ao depois, faria os outros dois voos pela Qantas. Para detalhar melhor esta rota e checar todas as opções, fiz a reserva por telefone. A atendente me informou que ao chegar e sair de Nadi, eu teria uma escala em cada voo. Sem problemas. E foi assim que segui numa sexta-feira de manhã para Honolulu. Após algumas horas de voo, com escala em Apia, em Samoa, cheguei a Nadi, e já era sábado à tarde. Isto acontece porque você cruza a linha do Pacífico. É meio confuso entender que um dia da sua vida é totalmente suprimido e que você só o terá de volta se fizer a rota no sentido contrário. 
Mas o difícil mesmo foi entender a lógica do retorno. Ao checar melhor meus impressos, constatei que minha "escala" da volta nada mais era do que a ida até Auckland, New Zealand, para depois retornar rumo nordeste até Los Angeles. Francamente, esta rota é totalmente non-sense. Olhe no mapa e você vai entender por qual razão, desnecessariamente, permaneci no avião por sete horas além do previsto, consideradas cerca de três horas e meia só para chegar a Auckland. "Jet Lag" é pouco para o que aconteceu aqui. Eu nem sabia mais que dia era aquele e, após o café da manhã no avião, literalmente apaguei e só fui acordar umas duas horas depois, quando faltava pouco para chegar em Auckland.
Quando você acorda, é intuitivo pegar sua bolsa para pelo menos passar um batom. Surpresa! Minha carteira havia desaparecido, sendo que, dentro dela, estava toda a minha a vida, assim entendidos o passaporte, os cartões de crédito, a habilitação, o cartão de embarque e algum dinheiro. Imediatamente fui até o fundo do avião e avisei as comissárias, que me disseram para eu procurar melhor porque era comum as pessoas se desorientarem no avião e esquecerem coisas corriqueiras. Nessas horas tudo parece conspirar contra você e fica difícil até mesmo comprovar que você é uma pessoa equilibrada e de posse do mais perfeito juízo.
Convidei as duas moças a vasculharem tudo e argumentei o óbvio: é claro que eu não entraria no voo sem pelo menos o cartão de embarque e o passaporte. Constatação já sabida: fui mesmo furtada. O comandante avisou no microfone que devido a "um incidente" não seria possível a nenhum dos passageiros desembarcar no destino. Na posição da minha poltrona, duas pessoas poderiam ser consideradas suspeitas. O rapaz fijiano que sentara ao meu lado e a moça americana que sentara exatamente à minha frente. Fiz o teste ali mesmo e percebi que é muito fácil você ter acesso à bolsa da pessoa que viaja atrás de você, já que, insistentemente, você é instado a enfiar seus pertencer embaixo do assento à sua frente.
Não preciso descrever o clima do avião. Como alguns passageiros pareciam perplexos e preocupados, resolvi dizer aos que estavam próximos o que havia acontecido. Não foi exatamente uma boa ideia, pois a partir dali pareceu que a culpa pelo atraso no desembarque era minha. Isso sem contar que dois dos interlocutores eram os próprios suspeitos.
Uns quinze minutos depois, o comandante voltou ao microfone para anunciar que minha carteira vermelha havia sido encontrada na lixeira do banheiro, intacta, mas sem nenhum dinheiro. Sob os olhares de todos os passageiros, desfilei até a cabine do comandante e ali constatei que não faltava nada, só uns US$90.00, entre cédulas de dólar e moedas fijianas, americanas e brasileiras. O comandante me perguntou o que mais eu desejava e eu lembrei a ele que eu não apitava nada naquele avião, mas que achava que a polícia deveria ser chamada para checar aquelas duas pessoas. Um crime, por menor que possa ter sido, havia acontecido. Além disso, quem teria moedinhas brasileiras no bolso? A investigação parecia elementar.
Muito respeitoso, o comandante chamou a polícia do aeroporto e o agente me pediu para individualizar as pessoas suspeitas. Feito isso, os demais passageiros finalmente desembarcaram, aliviados e justificadamente mal humorados.
Os suspeitos ficaram no fundo do avião e eu fiquei do lado de fora. Uns vinte minutos depois, o oficial retornou e me informou que não havia sido encontrado nada com eles e que resolveu dispensá-los. Não foi formalizada nenhuma ocorrência e eu nunca vou saber os nomes daquelas pessoas e nem quem foi o autor do furto. E nem onde o ladrão escondeu as notas e as moedinhas. Sei apenas que a polícia neo-zelandesa foi muito superficial, dado que checou somente suas carteiras e bolsos. Por ocaso na Oceania as pessoas deixam à mostra o dinheiro subtraído? 
Por mais vivida que uma pessoa possa ser, em uma viagem você simplesmente fica sem entender algumas questões. Nem perco mais meu tempo tentando decifrar alguns mistérios. Acabo seguindo em frente e colocando um ponto final no assunto. Como deveríamos fazer, aliás, todos os dias de nossas sagradas vidas.
Sendo assim, encerrada sumariamente aquela averiguação, tratei de tomar um rápido café para fazer a continuação daquele incompreensível voo, de Auckland rumo a Los Angeles. Foram mais treze horas de sono, mas agora sempre abraçada à minha bolsa.

(final de tarde em Robinson Crusoe Island, Fiji - foto: acervo pessoal)

QUANDO AS COISAS DÃO ERRADO

Não posso mentir para vocês. Assim como na nossa vida cotidiana, em viagens algumas coisas dão igualmente errado. Mas isto não é motivo algum para você desistir de seus planos. Pense bem: se você deixar de viajar, poderá também ter más experiências, até mesmo piores, como as que acabam acontecendo de vez em quando. Aqui ou em qualquer lugar do mundo, seu pneu pode furar, você pode ser roubada, seu celular pode pifar. Normal. Acho até que em viagens você tem menor probabilidade de problemas do que no seu dia-a-dia. Bom, pelo menos você não será convocada a trabalhar até mais tarde, ou será importunada com telefonemas fora de hora, ou terá que inventar uma desculpa pouco plausível para não comparecer a um não muito atraente evento familiar.
Monterey e Carmel-By-The-Sea são duas cidades muito bonitinhas e, embora eu estivesse com meu carro, achei por bem contratar um city tour. Depois de muito pesquisar, descobri que existem apenas duas opções naquelas localidades. Todos os outros tours partem de São Francisco ou de outras cidades. Uma das opções é uma espécie de motorista particular que apanha você no hotel com seu próprio carro. Telefonei para o número indicado no site (Big Sur Tours) e constatei que o custo era altíssimo (cerca de US$400.00 por algumas horas) e que o proprietário-motorista Dave Engelberg não era lá muito educado. Descartada  esta opção de imediato, parti para a segunda, tal seja uma empresa chamada Monterey Movie Tours!. Fechei a contratação e a atendente, muito assertiva, deixou logo claro que os US$57.00 pagos com cartão não seriam devolvidos em nenhuma hipótese, nem que eu estivesse em coma ou que a Califórnia se rachasse num terremoto. Ok. Regras do jogo. No dia seguinte, levantei cedíssimo e fui até Big Sur, que não fazia parte do tour, para voltar a tempo de estar no lobby do hotel ao meio-dia e meia. Uma hora antes, quando eu entrava no banho, o dono da agência, Dave Lumsden, me telefonou no quarto e disse que o tour havia sido cancelado porque havia somente eu e mais uma pessoa. Não quero discutir as leis americanas, mas, sinceramente, tenho para mim que esta hipótese não lhe era permitida, porque o fato de haver apenas dois clientes, a tornar a contratação não lucrativa, é risco do próprio negócio. Fiquei chateada, mas não havia o que fazer. Enviei-lhe, então, um email confirmando o reembolso e ressaltando meu desapontamento. Ele se desculpou eletronicamente e, mais tarde, quiçá por medo de comentários negativos no TripAdvisor, deixou pessoalmente uma caixa de trufas na recepção. Fim da história.
Encerrado o percurso da Califórnia em São Francisco, voei para Honolulu e fiquei quatro noites num hotelzinho razoável em Waikiki. No quinto dia, peguei o voo rumo a Maui, que era o lugar que eu mais desejava conhecer nesta viagem. No aeroporto, apanhei meu carrinho, um Kia Soul laranja, e segui para o hotel reservado. Lá chegando e com o voucher impresso em mãos, fui surpreendida com o fato de que minha reserva simplesmente não existia. E não houve como argumentar com o recepcionista, que era muito mal humorado para um havaiano que mora no lugar mais lindo do mundo. Não havia vagas. Liguei várias vezes para a Agoda, site por meio do qual eu fizera a reserva e o pagamento antecipado de US$950.00 por quatro noites. Limitaram-se a dizer que, infelizmente, não poderiam fazer nada a não ser me restituir o valor integral, com um crédito adicional, em minha fatura, no equivalente a 25% do total, por conta do aborrecimento. Como cada minuto gasto com roaming (Brasil, USA, Europa) custava muito dinheiro, concordei e encerrei o caso.
Faltava agora achar um hotel. Sem wireless, fui atrás de um internet café e constatei que não havia nada para aquela noite por menos de US$600.00 a diária. Maui é cara assim, principalmente se sua reserva não for feita com bastante antecedência. Prestes, então, a checar um voo de volta a Honolulu, avistei uma placa de locações de apartamentos e entrei na AA Ocean Front. Duas funcionárias muito prestativas acabaram localizando uma unidade maravilhosa no Mana Kai Resort, muitíssimo melhor que a reserva anterior e com o bônus de vista para o mar. O preço não era baixo, mas era suportável, principalmente por conta das circunstâncias adversas. Nem acreditei. Eu não precisaria abortar meus planos de mergulhar em Molokini. Fiquei tão emocionada que cheguei a chorar no balcão de atendimento. Neste momento, entrou um senhor suíço e deixou uma caixa de chocolates para aquelas moças como agradecimento por algum favor. Não pensei duas vezes. Lembrei da maravilhosa caixa de trufas, inacreditavelmente intacta, e fui buscar no carro. Elas ficaram muito surpresas e argumentaram que tais trufas eram caríssimas. Tive muito prazer em repassar o tal presente, o que certamente também me ajudou a esquecer o incidente anterior e, o melhor, com a economia de milhares de calorias.
É assim que a vida funciona, minha amiga. "Shit happens", mas, no final, tudo parece dar certo. E, desta forma, continua caminhando a humanidade.
PS: ao chegar de viagem anteontem, tive a notícia de que a diarista não vai retornar a seus serviços por punição ao fato de eu ter viajado por quase cinco semanas. Com isso, tenho uma mala inteira de roupas para colocar na lavadora. Com licença, então.

(Molokini Crater - foto extraída de http://www.molokini.com/)