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quarta-feira, 11 de abril de 2012

NUNCA PARE DE REMAR

Um dos encantos da vida é aprender a observar que nada está parado. Tudo flui, segue, gira, cresce, muda, modifica-se. O estático é uma ilusão da mente. As células envelhecem. Os elétrons vagueiam ao redor do núcleo do átomo. E o tempo, que intuitivamente não para, na verdade sequer existe, de acordo com a concepção socrática.
Se estas afirmações parecem ser verdadeiras, não faz qualquer sentido buscar a estagnação. A ausência de impulso e de transformação do ser humano não se harmonizam com o fluxo da vida. E o querer reter, prender, conservar e manter também se insere no campo das atitudes que desafiam o ritmo da existência.
Há pouco menos de um ano, tive uma séria lesão na coluna que, ao menos até agora, impediu-se de voltar a montar. E você não imagina como eu sinto falta dos meus amigos equinos, do cheiro do campo, das cores das flores, da garoa no rio, dos cabelos ao vento. Não sei se um dia volto. Mas se eu puder voltar, estarei retornando a raízes profundas e correrei por vales, montanhas, estradas e regatos até entender o mito da criação e alguns dos mistérios da vida.
Mas não pense que estou parada. Uma impossibilidade momentânea não precisa significar a sua paralisação. Você tem que procurar outra coisa para aprender, estudar outras maneiras de fazer e desenvolver outras partes do seu corpo e da sua mente.
E foi assim que livrei minha alma do aprisionamento neste último ano. Escolhi outros caminhos e outros desafios. Vou contar como foi.
Primeiro, mudei de habitat. Troquei a terra quente e seca pela água fresca e apurei meu gosto pelo mundo subaquático. Vi peixes, crustáceos, corais e muitas outras formas de vida que eu jamais imaginei que pudessem existir. Depois, desci a um universo antes impenetrável. Aprendi a mergulhar e compreendi que até mesmo para os nossos pulmões existe uma alternativa. Nadei com golfinhos, baleias e tubarões e, nas profundezas de oceanos cristalinos, encontrei cores e movimentos inusitados. Dancei ao redor de embarcações submersas e percorri labirintos e túneis com vagar e precisão.
Num terceiro momento, voltei à superfície. Viajei em  motores, velas e remos e senti outras temperaturas e sensações esbarrando em minha face. A velocidade é inebriante e tudo aquilo que te transporta é realmente capaz de te levar muito além. Mas desta vez eu não conduzi. Deixei-me ser guiada e em tais momentos de rara contemplação apenas me entreguei.
E então era hora de voltar ao comando. Fazia tempo que eu não segurava nas rédeas, mas não me esqueci de como era me levar a mim mesma. E aprendi a manejar o remo em cima de uma prancha. Minha primeira lição foi nas águas rebeldes do Oceano Pacífico. E depois de muitas e muitas quedas, finalmente comecei a equilibrar-me. E logo descobri uma sequência lógica em tudo isso.
O passo inicial é carregar a prancha até o mar. Se você não conseguir carregar, arraste. Se você não conseguir arrastar, peça ajuda. Mas não desista. Em seguida, deite-se sobre ela e flutue em direção ao horizonte. Quando se sentir preparada e como quem faz uma prece, ajoelhe centralizadamente e comece a remar. Nesta hora você começa a subir. O remo é longo e único e o trajeto da sua prancha é controlado por meio da alternância, ao lado esquerdo e direito. Passando a arrebentação, fique em pé e continue remando, pois, se você parar por um segundo, é certeza que vai cair. Se vier uma onda mais forte, tente concentrar-se. E se não der certo, não tem problema nenhum. Sua prancha estará atada a seu pé. É só subir  de novo e recomeçar. Quantas vezes sejam necessárias.
Aprendi muitas coisas com estas novas atividades, que não são nada diferentes da nossa forma de viver a vida. Para mergulhar, o importante é ter calma e respirar para poder observar a beleza do desconhecido. Para ficar em pé numa prancha, é só concentrar-se e equilibrar-se para poder seguir em frente. E para seguir num barquinho tripulado, é só deixar-se conduzir.
Não sou atleta, mas sou muito bem intencionada e dedicada às minhas metas. E afirmo que dá para aprender uma coisa ou outra, ou todas. Mas se você não quiser, tudo bem. Eu já disse o que eu achava essencial. Nos momentos de dificuldade, apenas lembre-se destas singelas lições teóricas. E sempre aja como se você já soubesse fazer. Respire fundo, concentre-se, observe, equilibre-se, eleve-se e, o mais importante de tudo, nunca, mas nunca mesmo, pare de remar.

(Baleias - foto extraída de http://www.marinewatchnsw.com/)

terça-feira, 10 de abril de 2012

UMA ILHA E SEUS ENCANTOS

Único estado americano com clima tropical o ano inteiro, esta maravilha de arquipélago chamada Havaí é rica e fértil para todos os gostos, dos mais simples aos mais exigentes. Na verdade, poucos lugares são tão democráticos. É impossível não gostar do que se vê por ali. A porta de entrada para este conjunto de ilhas é o Aeroporto de Honolulu, que, de uma certa forma, é até modesto se comparado à beleza do que está por vir. Estive nas ilhas recentemente e digo, com toda a honestidade do mundo, que pensei em um dia me mudar para lá de mala e cuia. Loucura ou não, empolgação ou não, o fato é que é difícil encontrar alguém que não pense em retornar ao arquipélago ao menos uma vez na vida.
Se você quiser conhecer os essenciais encantos disponíveis, não fique menos que quatro noites em Waikiki, principal praia de Honolulu, que, por sua vez, fica na ilha de Oahu e que, também por sua vez, é a principal ilha do arquipélago. Há muito para ver e fazer. Ali você encontra lojas, restaurantes e hotéis sofisticados. Mas encontra também a natureza no ápice de seu esplendor. O vermelhíssimo pôr do sol de Waikiki é exuberante a ponto de deixar qualquer um extasiado. Assim como tudo o mais. Nos concierges dos principais hotéis, você encontra muitas opções de passeios e alguns deles são realmente imperdíveis. Não deixe de jeito nenhum de ir a Diamond Head, considerada uma das principais crateras vulcânicas do mundo. Lá você faz um pequeno "trekking". Imprescindível também é jogar-se nas águas azuis de Hanauma Bay, um dos lugares mais espetaculares em que já estive para fazer "snorkel". Aliás, para melhor aproveitar os seus passeios, sugiro que você compre uma máscara e nadadeiras e carregue-as com você. Recomendo também que você vá conhecer de perto os golfinhos e baleias, em um tour que parte da marina do Ko Olina Resort às seis horas da manhã.
Agora, se você quer ter uma experiência tipicamente havaiana, terá que aprender a surfar em Waikiki Beach. Infelizmente, devido a um problema na coluna, não pude fazer isto, mas observei como as coisas funcionam na beira do mar. Por uma aula você paga cerca de U$90, que não é exatamente barato. Mas seu simpático professor ficará com você na areia e na água o tempo que for necessário até você se sentir confortável e apta a alugar sozinha uma prancha em uma tentativa solo. Além disso, você sempre poderá dizer que aprendeu a surfar ao lado da estátua de Duke Kahanamoku, o pai mundial do surf. E esta verdadeira lenda é tão importante na vida dos havaianos que há um restaurante temático em homenagem a ele, o Duke's, em que você pode saborear saladas e drinks maravilhosos ao som de música típica. A propósito, este bar é ótimo para ir sozinha, pois você facilmente se acomoda no balcão. E, para chegar até ele, é só entrar no Hotel Outrigger Waikiki on The Beach, que fica quase em frente ao International Market Place.
No quesito dia-a-dia e para suas compras e necessidades básicas, vá a uma das dezenas de ABC Stores, em que você encontra literalmente de tudo. Até o café de máquina é bom nestas lojas, que ainda têm coupons de descontos e bônus como presente.
Alugar um carro na ilha não é uma boa opção, à exceção do dia em que você for até North Shore, o que é obrigatório. Você pode ir até lá pelo centro da ilha ou a partir de Waikiki rumo ao sul, fazendo todo o contorno. Escolhi este caminho. A viagem é linda e você vai se emocionar quando vir as ondas gigantes em Sunset, Banzai, Pipeline, Waimea, Haleiwa e outras praias onde se concentra o "high surf" e onde você não poderá nadar, a não ser que deseje ser resgatada por um salva-vidas bronzeado e histérico gritando em um megafone. Depois de deliciar-se contemplando os maiores tubos que você já viu, vá almoçar em algum restaurante perto do Haleiwa Beach Park e sinta-se absolutamente em casa.
No último dia de Oahu, procure em Waikiki um Catamarã chamado Mana Kai e faça um passeio de uma hora por U$20, durante a qual você poderá observar a cidade vista do mar. Vale muito a pena, acredite.
A postagem termina por aqui. Oahu, não. A ilha é muito mais do que isso e para entender o que ela significa só mesmo estando por lá. Não se esqueça que ali fica Pearl Harbor, de importância histórica sem precedentes para os nativos.  Isso sem contar as inúmeras outras atrações, que, somadas às que eu já mencionei, bem justificam o fato de que Oahu é conhecida como "The Heart of Hawaii".
São infinitos os encantos que se contam em cada um dos cantos da ilha. Das crateras às baías, das praias  desertas ao topo dos vulcões, do mar azul encapelado ao crepúsculo escarlate, Oahu é como uma pérola única que repousa no Pacífico. Vá conhecê-la. Bem aventurados os que puderem tocar nesta jóia. Bem afortunados os que puderem se adornar com ela.

(Hanauma Bay, Oahu, Hawaii, USA - foto extraída de http://www.tripsgeek.com/)

domingo, 1 de abril de 2012

ALOHA, HAWAII, MAHALO

Considero que a imaginação das pessoas seja uma de suas potencialidades mais vigorosas. Não sei se isso acontece por causa de nossos referenciais pessoais ou porque a natureza, em ato de extrema de generosidade, simplesmente dotou o ser humano de infinita capacidade de ver o que não existe, seja no passado, no presente ou no futuro.
Quando eu desenhei minha última viagem, esquadrinhei tudo o que estava a meu alcance, de modo que, quando cheguei a meus destinos, tinha já uma ideia bem clara e precisa do que eu encontraria por ali. E assim foi ao longo de toda a Costa da Califórnia e também em Las Vegas, lugares em que senti extrema familiaridade e conforto, porque eles não destoaram muito daquilo que eu visualizei que poderia encontrar.
Em Honolulu, porém, não foi assim. Muito diferente daquilo que imaginei, não fui recebida com colares de flores, músicos e saudações ao chegar ao movimentado Aeroporto. Ao contrário, tudo o que se via eram turistas estressados, correndo de um lado para outro, e uma infindável multidão de pessoas trajando camisas floridas abordando você para levá-lo até Waikiki, região onde se localizam os principais hotéis. E foi assim que contratei a SpeediShuttle para me levar até meu destino, o Aston Waikiki Beachside Hotel, por baratíssimos US$13. A van era conduzida por uma motorista muito inexperiente, que tentava ser simpática com os demais passageiros, que, exaustos como eu, não queriam ver nada durante o traslado e que só pensavam em se livrar das malas num confortável quarto de hotel. Ela, insistentemente, dizia "Aloha" e nos pedia, tal qual em uma excursão de colégio, para que repetíssemos a saudação, alegres e entusiasmados. Não satisfeita, ela perguntava: "Vocês estão em Honololu. Não estão super felizes?". Quem já não estava com excelente humor, como eu, teve sua condição significativamente piorada, o que, em meu caso particular, também se justificou pelo fato de que a motorista teimou em me deixar em outro hotel da mesma cadeia, o Aston Waikiki Beach Tower, praticamente me colocando para fora da van na rampa de acesso. Infelizmente, tive que discutir com ela, ao que ela retrucava dizendo que aquele era o único Aston de Waikiki. Eu, que não moro lá nem nada, já sabia que existem dezenas de "Astons" naquele Estado e naquela cidade.
Foi só quando a levei até o concierge do hotel errado que ela se convenceu de que aquele não era o meu destino. E subimos novamente na van até o correto desembarque. No caminho, ela considerou relevante dizer-me que as duas palavras mais importantes da ilha eram a já mencionada "Aloha", que é uma espécie de coringa que serve para quase tudo, e "Mahalo", que significa "Obrigado". Ok. Ao descer no hotel correto, falei o recém aprendido "Mahalo", que, obviamente, veio desacompanhado da esperada gorjeta.
O hotel era muito bem localizado, em frente ao melhor ponto da praia. Mas o quarto que eu recebi não era tão bom assim, pelo simples fato de que não tinha janelas externas e apenas uma espécie de vitrô que dava para um corredor. Sinceramente, achei um desaforo estar em Waikiki sem poder respirar a brisa do mar e, felizmente, consegui um quarto muito melhor, sem qualquer acréscimo. E ali fiquei por quatro noites.
Saí para caminhar, para comer e para escolher o que eu faria no dia seguinte e, miraculosamente, tudo foi se acalmando. Às vezes, as chegadas são conturbadas assim mesmo. Mas depois que eu tomo uma coca-cola  diet ou um café, e paro para respirar e pensar onde estou e que consegui chegar sozinha até lá, tudo fica mais ameno.
É sempre assim. E é por isso mesmo que não me importo nem um pouco de viajar sozinha. Depois da confusão, sempre vêm incontáveis benesses. E é por isso também que jurei a mim mesma nunca vou parar de voar. Pode parecer que não, mas isto também é um treino incrível para seu aprimoramento pessoal. Você desenvolve sua paciência, sua capacidade de resolver problemas e sua habilidade em lidar com frustrações e desilusões. E a gente acaba usando tudo isso no nosso cotidiano, porque a vida é mesmo uma sucessão de fatos que nos iludem, nos enganam e nos desapontam. E quando eles se mostram como realmente são, é aí que você põe à prova a sua aptidão para enfrentá-los sob a roupagem da realidade. E se você conseguir ser feliz neste ponto, isto significa que literalmente transcendeu, no sentido de que passou por todas as dificuldades até atingir um real contentamento. As viagens nos fazem crescer. As viagens nos tornam preparadas. As viagens ensinam muito sobre o viver. Acredite ou não, aceite ou não, isto é quase uma forma de espiritualidade.

(Sunset em Waikiki, Honolulu, Hi, Usa - foto extraída de http://blogviagens.com/


terça-feira, 27 de março de 2012

O GRANDE PLANO DA SUA VIDA

Se você está bem consigo mesma, é quase certo que esteja fazendo planos para sua vida. Planejar é a saudável arte de organizar, mentalmente, aquilo que você deseja realizar. É antever as possibilidades e os caminhos que você irá percorrer até alcançar aquilo que você quer atingir. Planejar é também a capacidade de traçar estratégias eficientes para resolver os problemas que certamente irão aparecer. Quando se planeja algo, não se espera o fracasso. Mas se você deixar de considerar os possíveis entraves, é quase certo que será pega de surpresa e que não terá, à sua mão, os recursos mais adequados para enfrentá-los.
Nossos primeiros planos são contemporâneos à época do nosso nascimento. Desde os primeiros instantes de vida, já existe vontade, mesmo que esta seja concernente, unicamente, à nossa própria fisiologia. Pode ser também que ainda antes do nascimento já exista o desejo. Pelo menos o desejo de viver. Os estudiosos dizem que, desde a fase uterina, o instinto de sobrevivência é uma realidade comum a todos os seres humanos e se manifesta por meio dos chamados reflexos, que objetivam a satisfação de uma necessidade. 
Se você não tem qualquer plano para sua vida, isto significa que está à mercê de condições exteriores à sua existência. Não estou discutindo e nem negando o útil "deixa a vida me levar", o qual tem enorme serventia quando você se dá conta de que não tem controle sobre muitos aspectos da sua vida. Mas também não posso ignorar por completo o famosa fábula "A Cigarra e a Formiga", cuja autoria é atribuída a Esopo, mas que, ao que consta, acabou se tornando notória graças a La Fontaine, que a recontou.
Agora, se ser cabeça fresca não é necessariamente uma opção e se você realmente não tem prazer e nem desejos, isto pode significar que você está precisando de ajuda. Até onde eu sei, e a não ser que você já tenha atingido elevado estágio de iluminação, o querer faz parte de todos os seres humanos.
Se os planos são uma constante na vida de quase todos, o mesmo não se pode dizer com relação à sua realização. Ao contrário, ao longo de nossos caminhos, muitos dos nossos planos foram esquecidos ou  deixados de lado. Outros, por sua vez, simplesmente não deram certo. E outros acabaram sendo modificados devido às cambiantes circunstâncias da vida. Todas nós já passamos por isso mas, no fundo, isto não tem mais qualquer importância. Os planos que ficaram para trás nunca mais voltarão. E isto porque se você pensar em um dia retomá-los, deverá considerá-los como um novo plano. Ora, parece bastante lógico que se você não pensar assim, chegará ao mesmo ponto em que chegou anteriormente e não verá, mais uma vez, a sua realização.
Dói muito não conseguir realizar alguns de seus nossos planos. E quando isso acontece, a única coisa que conseguimos ver somos nós mesmas e não nos enxergamos de maneira amorosa, porque a crítica e a auto-censura são formas muito vigorosas de não-perdão. Não sou dona da verdade, nem sábia e nem madura o suficiente, mas, pelo que percebo, este é um ciclo que tende a se repetir e é nossa obrigação aprender a lidar com ele.
Por incrível que pareça, devemos ter planos para nos recuperamos dos planos que não dão certo. E é nesse ponto que eu queria chegar. O mundo vai além. Continua girando, com ou sem a realização de seus planos. Estamos todas fadadas a esta realidade. Queremos muito, mas muitas vezes não conseguimos. E não importa a razão. Bem ou mal, o fato é que você tem que se adequar ao resultado, seguir em frente e fazer outros planos.
Minha querida avó dizia que não devemos colocar todos os ovinhos no mesmo cesto. Talvez ela estivesse certa quando demonstrava saber que é necessário diversificar. Porque ela compreendia que, a par da dedicação, existe o inexorável imponderável ao qual é necessário resignar-se. Ela me ensinou que se o plano "a" não der certo, ainda temos o "b", ou o "c", e que devemos aceitar de bom grado que o alfabeto tenha vinte e seis letras.
Aprendi com meus próprios insucessos que o que salva a espécie humana é a aliança do esforço com o improviso. Talvez este seja o mais sublime plano da construção do nosso ser. E um pouco depois, aprendi também que é o caso de adicionar a alegria a esta equação. Alegria que deve ser entendida como a constatação de que, seja seu caminho plano ou não, sempre é possível seguir na direção do nosso mais recente objetivo.

(Pirâmides de Gizé, Egito - foto extraída de http://ancientworldwonders.com/)


sexta-feira, 23 de março de 2012

OS ESPELHOS MÁGICOS

Pode parecer estranho que a dois dias de embarcar para Honolulu, Capital do Havaí, eu estivesse comprando luvas, cachecol e gorro de lã na cidade de São Francisco. Eu estava me preparando para visitar o Yosemite National Park e, segundo a acertada meteorologia, estaria nevando ali. E foi assim que, em uma terça-feira cedinho, mas bem cedinho mesmo, partimos em tour para aquele maravilhoso lugar. O motorista do ônibus chegou adiantado uns quinze minutos. Quando foram me chamar no restaurante do hotel, pedi para que ele esperasse um pouquinho. O simpático rapaz da recepção voltou em seguida e me explicou que não seria possível, pois o motorista tinha outros tantos turistas para apanhar em diferentes hotéis, todos exatamente às seis da manhã. Como meu hotel era o primeiro da lista, meu café acabou sendo abruptamente interrompido um quarto de hora antes do combinado. Obviamente isto não foi muito agradável para mim, mas, surpreendentemente, foi o motorista quem ficou de mau humor. Não eu. Coisas de viagem.
Seguimos em frente, nós dois, para pegar todos os demais viajantes e partimos, então, em direção a nosso destino. No ônibus havia alguns australianos muito simpáticos. Havia também alguns orientais, com suas potentes câmeras e, dentre eles, uma japonesinha na flor de seus dezesseis anos, acompanhada de sua mãe. A menina tinha um ar de top model e a devotada mãe não se cansava dos cliques de sua poderosa Nikon e nem das caras e bocas da filha. Mas o mais engraçado mesmo foi que a garota usava botas de salto altíssimo, cílios postiços gigantes e perfeito batom Dior na cor vermelho-paixão. Ela era linda e parecia uma heroína de Mangá adornada com autêntica bolsa Louis Vuitton e trench coat Prada.
Eu não tenho nada a ver com o que os outros vestem ou deixam de vestir, mas fiquei me indagando se aquela plataforma era adequada ao passeio, que incluía trilhas na neve e lagos congelados. E pude constatar, ao chegarmos ao Parque quatro horas depois, que minhas suspeitas estavam corretas. A garota teve muita dificuldade para descer do ônibus e posso afirmar com toda a convicção do mundo que, se ela tem um blog de viagem, não foi capaz de relatar nada além da Cafeteria do Parque. Ela não conseguiu andar para fora dali.
O Parque, que se localiza em Sierra Nevada, possui riquíssimas fauna e flora. Mas o ponto alto de Yosemite são, literalmente, as gigantescas formações rochosas, mundialmente conhecidas pelas escaladas de atletas insanos que permanecem pendurados em uma parede de pedra por três dias até atingirem o topo. O El Capitan é talvez o mais famoso penhasco de granito do mundo. Mas Sentinel Dome e Half Dome não ficam nem um pouco atrás em termos de beleza e de grandiosidade. Meu lugar predileto, porém, foi Mirror Lake, que é remanescente de um grande lago glacial. Este lugar é mágico. Sério mesmo. Clique aqui e tenha uma pequena amostra deste pedaço deslumbrante do Paraíso. Felizes os que puderem ver esta maravilha pelo menos uma vez em sua vida.
Não quero ser crítica demais ou insistente no assunto, mas, diante daquela incomensurável e magnífica visão, eu não podia deixar de pensar na garotinha oriental. Tenha sido a decisão da moça ditada por questão de cultura, moda, tendência ou vaidade, o fato é que ela, em minha humilde opinião, perdeu muito de seu passeio. Eu, por exemplo, ainda que tivesse suprimida a minha primeira refeição do dia, tal como ocorreu de manhã, jamais me disporia a permanecer oito horas dentro de um ônibus apenas em nome de uma boa xícara de café preto e de alguns cookies. Mas a vida é assim e escolhas são escolhas. Ela não viu as principais maravilhas naturais de Yosemite e nem trilhou com seus próprios pezinhos por aqueles caminhos encantados. Eu, por outro lado, vi coisas incríveis, mas, ao menos naquele dia, poderia ter ganho o "Oscar" da deselegância, já que trajava um gorro enfiado na cabeça, calça jeans molhada até o tornozelo e tênis encharcado de lama e de neve. 
Nós, mulheres, somos muito vaidosas e gostamos de ser notadas e observadas. Mas há momentos certos para isso. Ou melhor, há momentos em que, mais importante do que sermos vistas, é ver e conseguir enxergar. Porque podemos nos olhar em nossos espelhos todos os dias das nossas vidas, mas, não, naquele Mirror Lake. E quer saber mesmo? Às vezes, contemplar de dentro para fora nos faz ver a nós mesmas de fora para dentro. Não sei como isso funciona. Mas aquele tipo de espelho nos possibilita ver além de nossas próprias faces. Estes espelhos refletem muito mais do que imagens. Eles são capazes também de fazer brilhar o tempo, as lembranças, os sons e as memórias. Esses espelhos nunca se quebram e sempre sabem o que você está pensando e sentindo. Não é possível mentir para esses espelhos, pois eles conhecem todas as verdades da alma. Estes espelhos são perfeitos e justos e mostram as coisas como elas realmente são. Eles não distorcem e nem deformam. São espelhos sábios, que não julgam e não criticam ninguém. E ainda podem contar a você tudo o que eles sabem sobre a vida. Esses espelhos mágicos não se importam com os seus erros e com seus acertos. Eles são infinitamente generosos na capacidade de compreender e de perdoar, mesmo que você esteja usando calçados impróprios para percorrer as trilhas da sua existência. Eles são o que são e refletem o que é.  E, mais do que isso, refletem o que foi. E o que será.

(Mirror Lake, Yosemite Park, CA, USA - foto extraída de http://en.wikipedia.org)

quarta-feira, 21 de março de 2012

NEM SEMPRE O SOL ESTÁ BRILHANDO

Existem momentos em que você simplesmente está sensível. Não falo exatamente daquela sensibilidade positiva, que é capaz de transformar sua mente em um poderoso receptor de energias, imagens e informações. A sensibilidade a que me refiro é uma espécie de tristeza que em muito se assemelha a uma certa melancolia. Dizem que as mulheres são suscetíveis a alterações de humor por razões de ordem hormonal. Nem sempre. Acho que é da natureza feminina, independentemente destas oscilações físicas, alternar seu percurso entre montanhas e depressões em uma topografia absolutamente imprevisível. Quando isso acontece, tudo o que você quer é se isolar em seu mundo e ficar quietinha até perceber um brilho por entre as nuvens, em claro prenúncio de que o sol está finalmente voltando. Às vezes, porém, não é possível hibernar por consciente escapismo. As demandas da vida cotidiana não se importam nem um pouco com suas emoções e sensações, o que, entretanto, não é necessariamente ruim, porque a premência é sempre catalizadora do processo de recuperação.
Quando dei início ao Blog, assumi o compromisso de escrevê-lo em todas as minhas noites livres. Como eu não me lembro de haver estabelecido a misantropia como exceção a esta comprometimento, tenho a obrigação de seguir em frente com meus relatos de viagem.
Meus últimos comentários foram sobre meu novo e devotado amor à maravilhosa cidade de São Francisco, que comecei a explorar em um domingo à tarde e que, de uma certa forma, nunca mais saiu da minha cabeça. A metrópole tem forte apelo romântico, tanto que quase todos os célebres cantores do mundo já entoaram o famoso "I Left My Heart in San Francisco". E quando você está lá, você consegue compreender. Não se trata apenas de observar os casais apaixonados. A cidade, em si própria, é exatamente como o amor. Ela tem altos e baixos inacreditáveis e curvas tão acentuadas que escapam da sua tenaz compreensão. Não sei se você sabe, mas a famosa Lombard Street é conhecida como a "rua mais curva do mundo", o que, na realidade, pode ser considerado verdadeiro eufemismo, principalmente se você estiver tentando caminhar por ela calçando saltos altos. Na verdade, ela é uma ladeira muito íngreme, que desce em zigue-zague por vários quarteirões. E porque ela é muito estreita, o único sentido de direção possível é mesmo o que segue rumo abaixo, a não ser que você teime em subir a pé, em sentido contrário ao da direção dos carros. Não quero ser pessimista ou cética, mas esta rua, apesar de rodeada por canteiros muito floridos, é como o sinuoso desenho do amor, na fatalidade de quando ele não dá certo. A consequência natural de um mau relacionamento é sempre uma inevitável descida, que você deve percorrer com o cuidado necessário para não se machucar ainda mais. Além disso, é preciso considerar que, neste quadro, a aceitação é obrigatória como via de mão única. E não é prudente tentar fazer o caminho inverso. Isto vai lhe custar força e energia desnecessárias, exaurindo  completamente o seu ser.
Acredite ou não, mas dentro da Prefeitura de São Francisco, há uma enorme escultura brilhante em formato de coração. Esta cidade é assim. E se você estiver sozinha, como eu estava, vai entender ainda com mais propriedade como seus sentimentos podem se tornar ambíguos e contraditórios de uma hora para outra. De uma certa forma, tudo ali lembra o amor, em escala significativamente potencializada. E quando você presta atenção ao amor, lembra também que não tem um amor. E então lembra das ladeiras da sua vida e das tentativas, em vão, de seguir contra seu fluxo natural. E das escorregadas e arranhões. E das vezes que você posou para fotos, como fiz ao lado daquele enorme coração, sem qualquer significado aparente. E das coisas que muitas vezes você fez e que não fizeram nenhum sentido. E das pessoas que nunca cantarem nenhuma canção de amor.
São Francisco é assim poderosa. Ela tem a capacidade de instigar e de provocar as mais variadas emoções. Seja em uma praça famosa, seja no Pier 39, seja na Golden Gate, seja em Chinatown, seja em Little Italy, seja em Alcatraz Island. Em San Francisco quase nada te liberta. Quase nada passa despercebido. Quase tudo te fascina, te encanta e te intriga. Não é exagero dizer que São Francisco é como um hábil sedutor que, após uma perfeita e plena noite de amor, pode te abandonar para sempre, sem deixar qualquer vestígio, sem qualquer palavra, sem qualquer explicação.

(Lombard Street, San Francisco, CA, USA - foto extraída de http://www.gogobot.com/)

segunda-feira, 19 de março de 2012

O UNIVERSO DA BELEZA

Na manhã de hoje, estive na FAAP a convite de uma queridíssima amiga para o fim participar da mesa redonda de abertura do curso "O Universo da Beleza", concebido dentro da própria instituição e integrante de seu Núcleo de Cultura. Além desta minha amiga, Dra. Náila Nucci, compuseram a mesa o Prof. Silvio Passarelli e outros três reconhecidos nomes do meio acadêmico e jornalístico, cujo brilho foi capaz de transformar aquela távola em uma constelação de primeira grandeza.
Durante a apresentação do projeto, os expositores traçaram considerações filosóficas sobre o tema, o que, confesso, teve o condão de surpreender-me pela vastidão e magnitude, inatingíveis como os confins do próprio universo. Foram tantas e tão complexas as observações, que acabei por constatar que eu jamais havia me dedicado a pensar sobre o assunto com a atenção que ele merece.
Em um primeiro olhar, o tema pode parecer singelo e óbvio, principalmente se for compreendido tão-somente sob a acepção do culto ao belo como alavanca ao atingimento da felicidade. Ninguém desafia esta realidade atual e não há quem não reconheça que a estética é uma meta a ser alcançada em todas as áreas da corporalidade, assim entendida como tudo aquilo que pode ser apreendido do ponto de vista material. Descobri hoje, porém, que a beleza vai muito além de sua própria aparência e penetra em campos muito mais sutis da existência humana. Alguém questiona a validade da existência da beleza que qualifica e guarda relação com as características da alma e do ser, em sua concepção espiritual?
O belo, a princípio, parece ser aferível de plano, mas não existe dúvida quanto ao fato de que muitos critérios são nutridos pela experiência cultural e pelas referências pessoais. Neste ponto, então, você pode acabar se convencendo de que a beleza é relativa e um tanto subjetiva. Mas se você admite esta premissa como inteiramente verdadeira, acaba por invalidar postulados universais. Quem descrê da proporção áurea utilizada pelo escultor grego Fídias ao conceber o Parthenon e legar a quase todas as áreas do conhecimento humano a constante real algébrica irracional representada pela letra Phi? E, num sentido mais prosaico, alguém consegue explicar como bebês de poucos meses são já capazes de manifestar suas legítimas preferências?
Muito mais foi dito, debatido e questionado e é claro que eu tinha perguntas a fazer. Mas considerando que eu jamais havia me dedicado ao assunto, achei melhor levá-lo embora comigo para minhas próprias reflexões.
Durante o dia, muitas coisas vieram à minha mente e pude então perceber que meu gosto desenfreado pelas viagens guarda íntima relação com a busca da beleza que existe na diversidade e na diferença. Diz-se que é afortunado aquele que tem a capacidade de apreciar o belo em sua essência bruta e dissociado dos paradigmas individuais. Talvez eu tenha nascido com sorte, ou talvez eu tenha apenas desenvolvido uma potencialidade disponibilizada a todos. Não sei. De qualquer modo, isto explica, em parte, o fato de que eu jamais tenha "desgostado" de um determinado lugar. Quando viajo, desligo minhas chaves pessoais e abandono qualquer parâmetro ou comparação. Vivencio as experiências na plenitude de como podem ser vividas e procuro olhar com olhos que enxergam sob outra perspectiva. E se a procura da beleza e seu consequente encontro constituem mesmo uma estrada para a felicidade, é por ela que eu pretendo continuar seguindo.
Dostoiévski dizia que "a beleza salvará o mundo". Isso também eu não sei, filósofa que não sou. A única coisa que posso dizer é que o mundo, em si mesmo, já ostenta o atributo da beleza, que é ratificada e validada a cada novo olhar. Não sou ousada o suficiente para sustentar uma tese divergente da defendida pelo escritor russo. De toda forma, como uma assertiva não se contrapõe necessariamente à outra, apenas reafirmo que a beleza é facilmente visível, amplamente perceptível e bondosamente democrática. É só observar. Ela pode ser encontrada em qualquer lugar em que você esteja. Em quaisquer circunstâncias, em quaisquer condições.

("O Homem Vitruviano", Leonardo da Vinci)

sábado, 17 de março de 2012

O ANO DO DRAGÃO

De acordo com o calendário chinês, iniciou-se, em 23 de janeiro de 2012, o Ano do Dragão, o qual se estende até o dia 09 de fevereiro de 2013. Dizem os estudiosos que este é um signo poderoso, que representa a vitalidade, a coragem, o entusiamo e os ideais elevados. Meu signo zodiacal é Touro e meu signo chinês é Dragão, mas eu não havia me lembrado de que este é o "meu ano" até chegar a São Francisco, em 05 de fevereiro de 2012.
Não sei se você sabe, mas, da população de São Francisco, cerca de 32% têm origem asiática. Eu, particularmente, não sabia. E foi só chegar àquela maravilhosa cidade para constatar esse fato, não somente pelos traços étnicos do povo, mas pelos inúmeros símbolos chineses que adornam a cidade, especialmente, não é preciso dizer, em Chinatown
Mas São Francisco é muito mais do que esta sensacional miscigenação. São Francisco é, definitivamente, um "must go", que atende a todos os bolsos e gostos.
Eu vinha seguindo de carro desde Los Angeles e tomei conhecimento de que não era uma boa ideia ficar com o veículo nesta cidade. Obediente aos conselhos de outros blogueiros, minha primeira providência foi fazer o "drop-off" na unidade da Avis perto da Union Square. Acerto absoluto. São Francisco não é um lugar para você dirigir.
Em primeiro lugar, não há mesmo necessidade, pois o transporte público é muito eficiente. Além disso, as vagas de estacionamento são raríssimas e caríssimas, inclusive nos hotéis, que cobram cerca de US$30.00 por noite para o repouso de seu automotivo. Por fim, é claro que você vai querer contratar um city tour e, além disso, experimentar os famosos Cable Cars. Ou seja, não há vantagem nenhuma em ficar com o carro por ali.
São Francisco é tão excepcional e tão linda que eu nem sei bem como descrevê-la. É uma cidade única no mundo, acredite. Ela é moderna, mas tem muita personalidade. Ela tem estilo requintado, mas é bastante alternativa. E ela é boa para passear, comer, comprar, namorar, conhecer gente, sair à noite, ou não fazer absolutamente nada. São Francisco também tem parques lindos, piers, clima ameno o ano inteiro, praias maravilhosas, além de muita história. É uma cidade completa.
Por causa desta profusão de adjetivos, é preciso reconhecer que São Francisco não é uma cidade barata em termos de hotelaria. Hospedei-me no Touchstone, que é muitíssimo bem localizado. Não é luxuoso, mas é bastante confortável e tem um restaurante anexo, o David's, que é muito conveniente. Além disso, tem um business center com acesso gratuito à Internet.
Cheguei à cidade em um domingo. Aliás, quando eu não conheço a cidade, faço questão de chegar no domingo, quando tudo é mais tranquilo. Depois de devolver o carro e de instalar-me no hotel, saí a pé para conhecer as redondezas. Minto. Antes disso, já pesquisei o que eu faria no dia seguinte e fechei o city tour para segunda-feira. Passei bastante tempo na Union Square, que tem uma espécie de feirinha/exposição, que só acontece mesmo aos domingos. E, por uns instantes, andando de lá para cá, parando em um café ou outro, você é quase capaz de sentir-se como uma moradora local, o que muito me agradou.
O mundo não é pequeno, como as pessoas dizem por aí quando encontram amigos ou conhecidos em comum. O mundo é gigantesco e há centenas de lugares listados na minha cabeça para eu ainda conhecer.
Mas uma coisa é certa. Embora eu esteja sempre procurando coisas novas para fazer, São Francisco é um lugar a que pretendo retornar para reviver e para "re-sentir". Não sei quando, nem como, nem com quem. Mas tenho certeza de que estarei de novo naquela cidade que senti como tão minha. Seja ou não neste meu fabuloso e magnífico ano, o Ano do Dragão.

("Dragon Boat"- City Hall - San Francisco, CA, USA - foto extraída de http://news.xinhuanet.com/)

terça-feira, 13 de março de 2012

UM LUGAR PARA VOLTAR

Por mais que você pesquise e dimensione bem sua viagem, às vezes acaba acontecendo de você perceber que esticou demais em uma determinada cidade, ou que faltou tempo em outra para ver tudo o que possa lhe parecer interessante. Quem disser que nunca passou por isso ou não está falando a verdade, ou viajou muito pouco. Por incrível que possa parecer, mesmo que você esteja em lugar maravilhoso, às vezes acontece de você querer ir embora dali, proferindo a clássica afirmação: "já deu". Por outro lado, muitas vezes você se apaixona pelo lugar e fica muito triste quando considera que não houve tempo ou oportunidade suficiente para curtir todos os cantinhos.
Nesta última viagem, quando segui rumo norte, saindo de Los Angeles e indo em direção a São Francisco, reservei duas noites em Monterey, achando que seriam suficientes para conhecer esta delícia de cidade, e mais Carmel-by-the-Sea. Grave erro de planejamento. Há muito para ver nesta região e por falta de tempo e por outras circunstâncias, acabei não aproveitando bem a minha estada. Já comentei em um "post" anterior que uma agência local acabou cancelando meu "city tour" em cima da hora. Fui pega desprevenida quanto a isso e perdi a oportunidade de visitar muitos lugares. Ademais, por bobeira mesmo, também não conheci o famoso Aquário de Monterey, tido por todos como um programa absolutamente imperdível.  Além disso, não gostei nada do meu hotel (Quality Inn), que, apesar do nome, pouco ou nada tinha de qualidade para oferecer. Os travesseiros era muito desconfortáveis, as paredes eram finas o suficiente para você ouvir os hóspedes sussurrando no quarto ao lado e, o pior de tudo, havia tanto cloro na água das torneiras e do chuveiro que meus olhos chegaram a arder.
Para terminar, apesar de eu ter adorado o famoso Fisherman's Wharf, acabei me aborrecendo porque, ao retornar para meu carro, encontrei uma multa no para-brisas, no valor de US$60.00. Eu havia estacionado ao lado de um hidrante sem nada notar, mesmo porque não havia qualquer sinalização.
Coisas assim acontecem. Muitas vezes, há problemas desta natureza. E muitas vezes os próprios sentimentos com relação às coisas são inexplicáveis.
Não dormi e nem comi bem em Monterey. Pouco vi de Carmel. Não conheci os melhores lugares. Senti-me isolada do mundo. Tive despesas e aborrecimentos inesperados. Eu não estava de bom humor.
Mas a vida segue, minha amiga, e a gente também tem que seguir. Sempre. E pensar que o próximo destino será melhor, como realmente foi. Amei São Francisco de paixão. E ali me senti muito feliz, apenas um dia após uma crise de melancolia. Há alguém que consiga entender estas intermitências? Há alguém que preveja os altos e baixos das viagens e da própria vida? Há alguém que evite estas alterações de humor? Não, não há.
Mas vou fazer uma segunda tentativa. Espero um dia retornar a Monterey e Carmel-by-the-Sea e poder contar outras tantas coisas, mais excitantes e divertidas. Espero ficar hospedada em um ótimo hotel e jantar como uma princesa. Espero visitar todos os lugares em que não estive. Espero dormir como um anjo.
Retornar a um lugar nem sempre é reviver. Muitas vezes é dar-se a oportunidade de ver os mesmos lugares com outros olhos, de observar de um modo diferente. É conceder-se uma nova chance. Para tentar, mais uma vez, ser mais feliz. Que é o nosso objetivo.

(foto extraída de http://favim.com/)

quinta-feira, 8 de março de 2012

SOMOS TODAS LINDAS

Dia Internacional da Mulher. Acho válido, mas, a rigor, penso que não haveria necessidade de se criar uma data específica para esta espécie de comemoração. 
E isto porque todos os dias são nossos. Sem qualquer exceção.
São nossos porque aprendemos a nos apropriar da vida e de tudo de bom que ela pode nos oferecer.
Com o tempo, desenvolvemos a arte de tomar posse de nós mesmas, de modo a afastar os ladrões dos nossos espíritos e das nossas inspirações. Aprimoramo-nos sempre na tarefa de defender o que é nosso por direito e por outorga da nossa própria existência, como resultado de todas as trilhas que duramente percorremos até aqui.
Nossos corpos são nossos. E são entregues a outrem apenas quando assim o desejamos.
Nossas almas são nossas e não são passíveis de aprisionamento.
Nossos corações são nossos e a ninguém é dado o direito de que sejam desestabilizados.
Nossos atos, certos ou errados, são fruto das nossas necessidades e incumbe apenas a nós mesmas o dever de julgar o seu acerto.
Nosso trabalho é o mais nobre que existe, pois foi elaborado com nossas mentes e com nossas próprias mãos.
Nossas amigas são como nossos espelhos, em que vemos a nós mesmas com muita nitidez.
Nossos filhos não são nossos, mas de nós vieram e por isso mesmo são seres sagrados.
Nossas casas são nosso santuário de amor.
Nossos altares são qualquer lugar do mundo em que possamos nos ver em sintonia com nós mesmas.
Nossos sonhos são secretos e inacessíveis.
Nossos sorrisos são as lamparinas que usamos para iluminar nossos caminhos.
E nossas lágrimas são as gotas de orvalho que enfeitam o jardim da nossa existência.
Nossa aparência é nossa forma de estar no mundo. E pouco importa como ela seja, porque nós somos nós, com tudo aquilo nos pertence. Sem mais nem menos. Apenas o que somos: aquela menina que cresceu mas que jamais abandonou seu poder de ser feliz, seus ideais e seus encantos.
E somos belas, muito belas, porque conhecemos este segredo. E é o que basta à nossa beleza. É o que  basta ao encantamento. É o quanto basta à poesia da vida. 
Não há nada no universo que conspire contra e que se contraponha a esta verdade: somos todas lindas!

(foto extraída do Google)

domingo, 4 de março de 2012

SEGUINDO MEU CAMINHO

Se você estiver pensando em fazer a Costa Oeste dos Estados Unidos de carro, tenho um conselho para você: faça. À primeira vista, pode parecer um pouco aterrorizante você percorrer cerca de 600 quilômetros sozinha, em um lugar em que você jamais esteve. Mas esta é apenas uma falsa impressão, na medida em que você não fará seu percurso numa toada só. Se você quer minha opinião, considero extremamente recomendável, sob todos os aspectos, que você tenha duas ou três pernoites durante o caminho, seja para descansar, seja para conhecer melhor alguns lugares, seja para conversar um pouco.
Minha última noite em Los Angeles foi no Marriot Courtyard, hotel muito bacaninha na área de Marina Del Rey. Aliás, esta é uma região que muito me agrada. Consegui uma ótima tarifa pelo Priceline, através do sistema "Name Your Own Price", e, assim, paguei 40% do preço do site oficial. Com meu GPS devidamente instalado e configurado para o "Português do Brasil", tive uma ótima noite de sono, sem qualquer preocupação.
Na ensolarada manhã do dia 02/02/12, tomei meu inadiável café preto e segui pela tão sonhada "Pacific Coast Highway". Se você tiver um mapa detalhado em mãos, verá que são muitas as opções de paradas ao longo do trajeto.
Após um trecho relativamente curto, estacionei em Malibu e fiquei observando alguns surfistas que já estavam à toda nas frias ondas da manhã. Depois, segui em frente. O caminho para o norte é bastante tranquilo e sua única preocupação será mesmo observar a paisagem e tomar cuidado para não ultrapassar os limites de velocidade, lembrando que há radares fotográficos.
Minha próxima parada foi em Santa Barbara, que foi uma das cidades mais interessantes que visitei. As ruas são muito organizadas e, ao mesmo tempo, você encontra inúmeros grupos de jovens nas esquinas, bares e restaurantes, já que esta localidade conta com muitas instituições de ensino renomadas. Como já era hora de almoçar, sentei-me em uma das mesas externas do Pascucci Restaurant, onde comi uma excelente massa caseira. Este ótimo restaurante italiano fica em uma das saídas do Paseo Nuevo, maravilhoso Shopping Center a céu aberto. Não sendo recomendável dirigir logo após o almoço, achei melhor fazer umas compras por ali. E, de tudo o que vi, o melhor mesmo foi uma loja de esquina chamada "So Good", que nem site tem, mas que vende milhares e milhares de bijuterias lindas a preços ridículos. Isso sem contar que a trilha musical da loja era um "rap" brasileiro.
Cerca de uma hora depois, prossegui meu caminho e cheguei a Solvang, uma inexplicável vila dinamarquesa que compõe o Santa Ynez Valley. Solvang é minúscula e linda, e você se sente na Europa. Há inúmeras lojas de artesano típico e confeitarias com especialidades da autêntica Copenhagem. Não cheguei a ir, mas nas proximidades está o Crumash Casino. Faça sentido ou não, mas o jogo é permitido naquela localidade porque se trata de uma reserva indígena.
Reservei uma noite no Holiday Inn Express, que é um hotel sem luxo, mas com quarto remodelado e excelente localização. E paguei a pechincha de US$65.00 com café de manhã, internet e estacionamento incluídos.
Foi excelente minha estada naquele lugar. Passeei a pé pela cidade, comi maravilhosos biscoitos amanteigados e visitei o pequenino centro turístico. Neste local, uma atendente muito simpática me informou que uma das faixas da Pacific Coast Hwy, sentido norte, estava fechada devido a obras. Eu já havia ouvido algo a propósito antes de sair do Brasil. Sendo assim, ela me informou que, para eu não pegar trânsito, deveria subir pela Rota 101, que foi uma opção sensacional para a manhã seguinte, pois tive a oportunidade de passar pelo Central Valley, que é uma região rural com incontáveis vinícolas. No percurso, há muitos anúncios de degustação-cortesia. Não parei, porém, porque, embora os convites fossem tentadores, havia muitas viaturas da patrulha rodoviária e dezenas de placas "Report Drunk Drivers - Call  911". Ative-me, pois, à minha inseparável garrafinha d'água, ao menos até chegar a meu destino final do dia, tal seja Monterey.
Ainda no trajeto, parei em Pismo Beach, cidade que conta com o Premium Outlets, onde tudo é bom e barato. Como o objetivo desta minha viagem não era fazer compras, limitei-me a quatro pecinhas de roupa e saí correndo dali para não cair em tentação. Saiba que pior do que arcar com sua fatura no mês seguinte é você carregar as malas sozinha e ter que pagar as tarifas de bagagens excedentes nos diversos voos.
Assim, antes de viajar, é bom você definir bem esse fato e esquecer até mesmo esta história de trazer presentes para a família e amigos. Desta vez, ninguém foi contemplado, pelo que, coletivamente, peço desculpas a todos. Só mesmo meu filho mereceu uma lembrança de LA, e isto porque filho é filho, o que ninguém discute. No mais, se você fizer essa maravilhosa rota, opte por gastar com passeios e com as coisas novas que você pode ver e fazer, porque, para fazer compras, há lugares até melhores para ir.
Recomendo, pois, que você aproveite cada momento, pois a gente nunca sabe se vai voltar ao lugar. Respire as cores, os aromas e os sabores de cada cidade. Guarde no seu coração as melhores lembranças. Faça seu pequeno diário. Tenha histórias para contar. Converse com as pessoas que encontrar. Olhe tudo. Espie cada cantinho. Viva intensamente. E seja imensamente feliz em seu caminho.

(Solvang - foto extraída de http://solvanggardens.com/)

sexta-feira, 2 de março de 2012

DESGRAÇA POUCA É BOBAGEM

A postagem anterior dedicou-se a narrar alguns fatos não muito agradáveis ocorridos na última viagem. Infelizmente, porém, há mais alguma coisa que preciso compartilhar com vocês. E antes que minhas amigas me digam que não acompanham o blog para se aborrecer ou para se preocupar, menciono, desde logo, que esta é, definitivamente, a minha última referência negativa desta jornada. Pode acreditar que, fora estes acontecimentos, a viagem foi pura alegria.
Meus voos São Paulo/Los Angeles/São Paulo foram feitos com milhas junto à United Airlines, que agora pertence a uma holding que engloba a Continental Airlines. Para chegar a Honolulu, de lá seguir para Nadi (Fiji Islands) e então retornar a Los Angeles, comprei as passagens pela Decolar. Eu viajaria pela própria United de San Francisco a Honolulu e, ao depois, faria os outros dois voos pela Qantas. Para detalhar melhor esta rota e checar todas as opções, fiz a reserva por telefone. A atendente me informou que ao chegar e sair de Nadi, eu teria uma escala em cada voo. Sem problemas. E foi assim que segui numa sexta-feira de manhã para Honolulu. Após algumas horas de voo, com escala em Apia, em Samoa, cheguei a Nadi, e já era sábado à tarde. Isto acontece porque você cruza a linha do Pacífico. É meio confuso entender que um dia da sua vida é totalmente suprimido e que você só o terá de volta se fizer a rota no sentido contrário. 
Mas o difícil mesmo foi entender a lógica do retorno. Ao checar melhor meus impressos, constatei que minha "escala" da volta nada mais era do que a ida até Auckland, New Zealand, para depois retornar rumo nordeste até Los Angeles. Francamente, esta rota é totalmente non-sense. Olhe no mapa e você vai entender por qual razão, desnecessariamente, permaneci no avião por sete horas além do previsto, consideradas cerca de três horas e meia só para chegar a Auckland. "Jet Lag" é pouco para o que aconteceu aqui. Eu nem sabia mais que dia era aquele e, após o café da manhã no avião, literalmente apaguei e só fui acordar umas duas horas depois, quando faltava pouco para chegar em Auckland.
Quando você acorda, é intuitivo pegar sua bolsa para pelo menos passar um batom. Surpresa! Minha carteira havia desaparecido, sendo que, dentro dela, estava toda a minha a vida, assim entendidos o passaporte, os cartões de crédito, a habilitação, o cartão de embarque e algum dinheiro. Imediatamente fui até o fundo do avião e avisei as comissárias, que me disseram para eu procurar melhor porque era comum as pessoas se desorientarem no avião e esquecerem coisas corriqueiras. Nessas horas tudo parece conspirar contra você e fica difícil até mesmo comprovar que você é uma pessoa equilibrada e de posse do mais perfeito juízo.
Convidei as duas moças a vasculharem tudo e argumentei o óbvio: é claro que eu não entraria no voo sem pelo menos o cartão de embarque e o passaporte. Constatação já sabida: fui mesmo furtada. O comandante avisou no microfone que devido a "um incidente" não seria possível a nenhum dos passageiros desembarcar no destino. Na posição da minha poltrona, duas pessoas poderiam ser consideradas suspeitas. O rapaz fijiano que sentara ao meu lado e a moça americana que sentara exatamente à minha frente. Fiz o teste ali mesmo e percebi que é muito fácil você ter acesso à bolsa da pessoa que viaja atrás de você, já que, insistentemente, você é instado a enfiar seus pertencer embaixo do assento à sua frente.
Não preciso descrever o clima do avião. Como alguns passageiros pareciam perplexos e preocupados, resolvi dizer aos que estavam próximos o que havia acontecido. Não foi exatamente uma boa ideia, pois a partir dali pareceu que a culpa pelo atraso no desembarque era minha. Isso sem contar que dois dos interlocutores eram os próprios suspeitos.
Uns quinze minutos depois, o comandante voltou ao microfone para anunciar que minha carteira vermelha havia sido encontrada na lixeira do banheiro, intacta, mas sem nenhum dinheiro. Sob os olhares de todos os passageiros, desfilei até a cabine do comandante e ali constatei que não faltava nada, só uns US$90.00, entre cédulas de dólar e moedas fijianas, americanas e brasileiras. O comandante me perguntou o que mais eu desejava e eu lembrei a ele que eu não apitava nada naquele avião, mas que achava que a polícia deveria ser chamada para checar aquelas duas pessoas. Um crime, por menor que possa ter sido, havia acontecido. Além disso, quem teria moedinhas brasileiras no bolso? A investigação parecia elementar.
Muito respeitoso, o comandante chamou a polícia do aeroporto e o agente me pediu para individualizar as pessoas suspeitas. Feito isso, os demais passageiros finalmente desembarcaram, aliviados e justificadamente mal humorados.
Os suspeitos ficaram no fundo do avião e eu fiquei do lado de fora. Uns vinte minutos depois, o oficial retornou e me informou que não havia sido encontrado nada com eles e que resolveu dispensá-los. Não foi formalizada nenhuma ocorrência e eu nunca vou saber os nomes daquelas pessoas e nem quem foi o autor do furto. E nem onde o ladrão escondeu as notas e as moedinhas. Sei apenas que a polícia neo-zelandesa foi muito superficial, dado que checou somente suas carteiras e bolsos. Por ocaso na Oceania as pessoas deixam à mostra o dinheiro subtraído? 
Por mais vivida que uma pessoa possa ser, em uma viagem você simplesmente fica sem entender algumas questões. Nem perco mais meu tempo tentando decifrar alguns mistérios. Acabo seguindo em frente e colocando um ponto final no assunto. Como deveríamos fazer, aliás, todos os dias de nossas sagradas vidas.
Sendo assim, encerrada sumariamente aquela averiguação, tratei de tomar um rápido café para fazer a continuação daquele incompreensível voo, de Auckland rumo a Los Angeles. Foram mais treze horas de sono, mas agora sempre abraçada à minha bolsa.

(final de tarde em Robinson Crusoe Island, Fiji - foto: acervo pessoal)

QUANDO AS COISAS DÃO ERRADO

Não posso mentir para vocês. Assim como na nossa vida cotidiana, em viagens algumas coisas dão igualmente errado. Mas isto não é motivo algum para você desistir de seus planos. Pense bem: se você deixar de viajar, poderá também ter más experiências, até mesmo piores, como as que acabam acontecendo de vez em quando. Aqui ou em qualquer lugar do mundo, seu pneu pode furar, você pode ser roubada, seu celular pode pifar. Normal. Acho até que em viagens você tem menor probabilidade de problemas do que no seu dia-a-dia. Bom, pelo menos você não será convocada a trabalhar até mais tarde, ou será importunada com telefonemas fora de hora, ou terá que inventar uma desculpa pouco plausível para não comparecer a um não muito atraente evento familiar.
Monterey e Carmel-By-The-Sea são duas cidades muito bonitinhas e, embora eu estivesse com meu carro, achei por bem contratar um city tour. Depois de muito pesquisar, descobri que existem apenas duas opções naquelas localidades. Todos os outros tours partem de São Francisco ou de outras cidades. Uma das opções é uma espécie de motorista particular que apanha você no hotel com seu próprio carro. Telefonei para o número indicado no site (Big Sur Tours) e constatei que o custo era altíssimo (cerca de US$400.00 por algumas horas) e que o proprietário-motorista Dave Engelberg não era lá muito educado. Descartada  esta opção de imediato, parti para a segunda, tal seja uma empresa chamada Monterey Movie Tours!. Fechei a contratação e a atendente, muito assertiva, deixou logo claro que os US$57.00 pagos com cartão não seriam devolvidos em nenhuma hipótese, nem que eu estivesse em coma ou que a Califórnia se rachasse num terremoto. Ok. Regras do jogo. No dia seguinte, levantei cedíssimo e fui até Big Sur, que não fazia parte do tour, para voltar a tempo de estar no lobby do hotel ao meio-dia e meia. Uma hora antes, quando eu entrava no banho, o dono da agência, Dave Lumsden, me telefonou no quarto e disse que o tour havia sido cancelado porque havia somente eu e mais uma pessoa. Não quero discutir as leis americanas, mas, sinceramente, tenho para mim que esta hipótese não lhe era permitida, porque o fato de haver apenas dois clientes, a tornar a contratação não lucrativa, é risco do próprio negócio. Fiquei chateada, mas não havia o que fazer. Enviei-lhe, então, um email confirmando o reembolso e ressaltando meu desapontamento. Ele se desculpou eletronicamente e, mais tarde, quiçá por medo de comentários negativos no TripAdvisor, deixou pessoalmente uma caixa de trufas na recepção. Fim da história.
Encerrado o percurso da Califórnia em São Francisco, voei para Honolulu e fiquei quatro noites num hotelzinho razoável em Waikiki. No quinto dia, peguei o voo rumo a Maui, que era o lugar que eu mais desejava conhecer nesta viagem. No aeroporto, apanhei meu carrinho, um Kia Soul laranja, e segui para o hotel reservado. Lá chegando e com o voucher impresso em mãos, fui surpreendida com o fato de que minha reserva simplesmente não existia. E não houve como argumentar com o recepcionista, que era muito mal humorado para um havaiano que mora no lugar mais lindo do mundo. Não havia vagas. Liguei várias vezes para a Agoda, site por meio do qual eu fizera a reserva e o pagamento antecipado de US$950.00 por quatro noites. Limitaram-se a dizer que, infelizmente, não poderiam fazer nada a não ser me restituir o valor integral, com um crédito adicional, em minha fatura, no equivalente a 25% do total, por conta do aborrecimento. Como cada minuto gasto com roaming (Brasil, USA, Europa) custava muito dinheiro, concordei e encerrei o caso.
Faltava agora achar um hotel. Sem wireless, fui atrás de um internet café e constatei que não havia nada para aquela noite por menos de US$600.00 a diária. Maui é cara assim, principalmente se sua reserva não for feita com bastante antecedência. Prestes, então, a checar um voo de volta a Honolulu, avistei uma placa de locações de apartamentos e entrei na AA Ocean Front. Duas funcionárias muito prestativas acabaram localizando uma unidade maravilhosa no Mana Kai Resort, muitíssimo melhor que a reserva anterior e com o bônus de vista para o mar. O preço não era baixo, mas era suportável, principalmente por conta das circunstâncias adversas. Nem acreditei. Eu não precisaria abortar meus planos de mergulhar em Molokini. Fiquei tão emocionada que cheguei a chorar no balcão de atendimento. Neste momento, entrou um senhor suíço e deixou uma caixa de chocolates para aquelas moças como agradecimento por algum favor. Não pensei duas vezes. Lembrei da maravilhosa caixa de trufas, inacreditavelmente intacta, e fui buscar no carro. Elas ficaram muito surpresas e argumentaram que tais trufas eram caríssimas. Tive muito prazer em repassar o tal presente, o que certamente também me ajudou a esquecer o incidente anterior e, o melhor, com a economia de milhares de calorias.
É assim que a vida funciona, minha amiga. "Shit happens", mas, no final, tudo parece dar certo. E, desta forma, continua caminhando a humanidade.
PS: ao chegar de viagem anteontem, tive a notícia de que a diarista não vai retornar a seus serviços por punição ao fato de eu ter viajado por quase cinco semanas. Com isso, tenho uma mala inteira de roupas para colocar na lavadora. Com licença, então.

(Molokini Crater - foto extraída de http://www.molokini.com/)

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

LUGAR DE MULHER É NO VOLANTE

Tenho a mais absoluta certeza de que você já ouviu várias vezes piadinhas a respeito do tema. E, se você for loira, mesmo que, como eu, por força de agentes químicos, a chance de você ter escutado comentários a propósito é ainda muito maior. Como não sou feminista e tampouco coletora de dados atuariais, não vou discutir a veracidade, ou não, destas assertivas. Apenas ressalto que, estatisticamente falando, o sexo masculino ocupa o honroso primeiro lugar no quesito "acidentes", o que, sabidamente, torna os seguros para o perfil feminino bem mais em conta. De todo modo, por amor às minhas amigas e leitoras do blog, não custa nada traçar algumas observações a respeito.
No dia de hoje, encerrou-se uma jornada de aproximadamente cinco semanas de viagem, que se iniciou e terminou em Los Angeles, Califórnia. Durante esses trinta e poucos dias, estive à frente de um volante por cerca da metade do período, o que não é pouco se você considerar que fiz a costa oeste dos Estados Unidos ao norte e ao sul de LA e que percorri o contorno das ilhas Oahu e Maui, no Havaí. Acho que só não dirigi mesmo em Fiji Islands, porque lá a mão é inglesa e não me sinto com competência a tanto. E se você quer mesmo saber, foi tudo muito fácil. Coloco o assunto nos tópicos a seguir:
1. Em primeiro lugar, a reserva antecipada de um veículo é absolutamente necessária se você pretende viajar em alta temporada. Em Maui, por exemplo, não havia nenhum veículo de nenhuma categoria disponível para quem não tinha reserva. Quanto às empresas, tive a oportunidade de experimentar quase todas, pois foram quatro locações distintas. E minha preferida e eleita depois desta viagem é a Alamo, que é super ágil, tem bom preço e, o melhor de tudo, dá a opção de você ir ao estacionamento e escolher o carro que quiser. Não esqueça, porém, de cotar os preços na internet para ver se vale mesmo a pena. Sugiro para isso a Rental Cars e o Priceline.
2. Um GPS custa pouco (cerca de US$12.00 ao dia), é utilíssimo e deixa você muito feliz. Coloque na opção "português" e sinta-se em casa. 
3. Ao sair, certifique-se sobre a existência de pedágios para não ser pega de surpresa.  Na costa oeste dos EUA não existem pedágios, a não ser em algumas rotas alternativas. Nesses casos, você verá a placa "toll road".
4. Todos os carros disponíveis para locação são automáticos. Escolha um tamanho adequado ao seu estilo e à sua necessidade.
5. Você terá que fazer a opção quanto ao serviço de reabastecimento. No meu caso, prefiro pagar um pouquinho a mais por galão a ter que parar no posto em cima da hora de fazer a devolução.
6. Faça o seguro integral do veículo e também contra terceiros. Ele custa, em média, uns US$20.00 por dia, mas elimina qualquer preocupação.
7. Existem radares nas estradas. Observe os limites de velocidade (em milhas). O GPS avisa no visor se você ultrapassar o limite.
8. Jamais ingira bebida alcoólica ou carregue alguma garrafa aberta dentro do veículo. Isto significa encrenca na certa de você for parada pela patrulha rodoviária. Na Califórnia, há inúmeras placas "Report Drunk Drivers - Call 911" e, obviamente, se você tiver algum problema, não dará certo o tal jeitinho ou  o charme brasileiro.
9. Alguns trechos das rodovias contam com "Carpools", que nada mais são do que faixas destinadas a veículos com mais de dois passageiros. São as faixas rápidas da esquerda e normalmente valem de segunda a sexta-feira. Nos finais de semana, normalmente você pode trafegar em qualquer faixa. Cheque antes, porém. Infringir este regulamente lhe custará uma multa de US$431.00.
10. Jamais jogue qualquer lixo pela janela. Multa: US$1000.00
11. Ao pesquisar seus hotéis, verifique se contam com "free parking". Isto pode fazer muita diferença no seu orçamento. Em São Francisco, por exemplo, os hotéis cobram uma taxa diária de estacionamento de US$30.00. Aliás, cidades como São Francisco ou NYC possuem infra-estrutura mais do que adequada para você nem pensar em dirigir. Gaste seu dinheiro com outra coisa.
12. Não há ninguém para ajudar no abastecimento de seu carro. Em alguns estabelecimentos, você paga com cartão na própria bomba e, em alguns, você paga dentro do posto. Em último caso, peça ajuda. Eu mesma nunca abasteci sozinha. Recorro ao estereótipo mulher-turista-proveniente-de-país-que-conta-com-frentista. Sempre tem uma boa alma para ajudar. Ah! E sempre coloque a gasolina regular. É a mais barata e tão boa quanto as demais.
13. Verifique em quais locais você pode estacionar. A cultura do "valet" existe, mas não em todos os lugares. Nas ruas, você paga no parquímetro, que hoje aceita até cartão. Em estacionamentos, você mesma paga com seu cartão ao sair. E não se intimide com a mania do "self service". Nunca fiquei na mão em nenhuma situação.
14. Jamais estacione em frente a um hidrômetro, mesmo que não exista nenhuma placa nem faixa assinalada.  Isto me custou uma multa de US$60.00 em Monterey, que em breve será remetida pela Avis à minha residência.
15. No caso de pane ou de qualquer outro problema, ligue para sua locadora que eles facilmente mandam alguém e um carro em reposição.
Embora muitos os tópicos, não acho que esgotei o assunto. Há, entretanto, informação suficiente para uma estreia na estrada. Na dúvida, alugue seu veículo por um ou dois dias e depois prolongue a locação se se sentir confiante. Nesta hipótese, serão utilizadas as mesmas bases e valores.
E, por último, se você já é uma motorista habitual em sua cidade, por favor, não tenha medo. Nosso lugar no mundo não é onde nos mandam ir, mas sim onde queremos estar. E muitas vezes, para isso, precisamos de um carro. Peço-lhe, assim, encarecidamente: em sua próxima viagem considere dirigir e faça valer o título do post.

(Road to Hana, Maui, Hawaii, USA - foto extraída de National Geographic)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

WHAT HAPPENS IN VEGAS STAYS IN VEGAS

Uma das coisas engraçadas de viajar sozinha é observar o quanto as pessoas fantasiam com relação a este fato. Muitas vezes elas não comentam nada, mas claramente deixam transparecer que imaginam encontros furtivos, noites tórridas, despedidas apaixonadas. Não sei se a notícia é boa ou ruim, mas não é assim que as coisas acontecem, ao menos comigo. É claro que uma cantada ou outra sempre pode acontecer, mas daí a virar um "affair" vai uma enorme distância. Em primeiro lugar, não gosto de correr riscos desnecessários. Depois, considero que este tipo de encontro não vale a pena porque sei que no dia seguinte seguirei sozinha a minha viagem. E, em terceiro lugar, há ainda o risco de eu me envolver emocionalmente, o que, definitivamente, nestas circunstâncias, não leva a nada.  O melhor a fazer, então, é manter-se com os pés no chão e lembrar que não é sem razão que a cabeça localiza-se geograficamente acima do coração e de todas as outras partes do seu corpo. E, por isso mesmo, o título desta postagem não se aplica a mim e diz respeito, exclusivamente, aos dizeres que você lê em cada esquina da cidade.
Como meu hotel localizava-se bem no centro da Las Vegas Strip, optei, no primeiro dia, por sair para a esquerda e visitar os principais hotéis e cassinos deste lado da avenida. Na volta, para ganhar tempo e fazer algo diferente, peguei o Monorail, que é um meio de transporte muito rápido, eficiente e barato. A viagem "single ride" custa US$5.00 e o trem suspenso vai parando nos principais hotéis. No dia seguinte, fiz o mesmo, mas em direção ao lado direito de quem sai do hotel. Foi uma maneira muito prática de conhecer os pontos mais interessantes desta localidade.
Mas há mais para você saber. Caso você pretenda comprar ingressos para shows e concertos com significativos descontos, deixe para adquiri-los no próprio dia. Uma empresa chamada Tix 4 Tonight possui vários pontos de venda ao longo da avenida principal e ali sao vendidos ingressos para todos os eventos, a preços incrivelmente mais baixos. No meu caso, optei por assistir ao espetáculo KA - Cirque du Soleil e, por um ingresso que custava US$159.00, paguei apenas US$99.00. Além disso, os preços que os concierges dos hotéis apresentam não incluem as taxas, ao passo que o preço dado por esta empresa já engloba todos os custos.
Por fim, há algo que ainda quero comentar. Cada um tem uma percepção diferente, mas Vegas, para mim, apesar de linda e grandiosa, não deixa de ser uma Disney para adultos, onde tudo é faz-de-conta. Acredito que você também terá esta sensação quando visitar as lojas e alamedas do The Palazzo, quando assistir a alguns imitadores de rua e mesmo quando ganhar nas maquininhas de caça-níqueis. Caso você não saiba, estas não soltam mais as moedas quando você ganha, como faziam antigamente. Agora elas apenas emitem um barulhinho similar e soltam um voucher parecido com um cartão de embarque aéreo. Com este cartão, ou você resgata o valor ganho no caixa, ou o insere em outra máquina para tentar a sorte mais uma vez. Simples assim.
Las Vegas pode mesmo nao ser de verdade, pode ser apenas um mundo de fantasias, onde tudo é possível e ilimitado. Mas é justamente esta a graça da cidade. Pode apostar que sua ida para Vegas não é para vivenciar nenhuma realidade. De fato, desta curta jornada, uma certeza ficou: de todos os lugares que conheci no mundo, este é o melhor que existe para você sonhar acordada, com toda a imaginação que você tiver. E sem qualquer limite.

 (Gondola no The Venetian, Vegas, Nevada, USA - foto extraida de http://www.lasvegasstrip.net/)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A CIDADE DO PECADO

Como comentei com alguns amigos, dentro da lógica do "sorte no amor/azar no jogo", e vice-versa, imaginei um jackpot de um milhão de dólares em minha curta estada em Las Vegas. Nada mais longe da verdade,  porém, e o que, infelizmente, me deixou com a fria e realista conclusão de que a sorte ainda não chegou a mim em nenhum dos dois terrenos. De todo modo, é minha obrigação relatar o quanto ocorrido nesta cidade.
Embora eu tivesse programado minha ida de ônibus, achei por bem cancelá-la porque soube que ela seria demorada demais. Optei, assim, por adquirir um pacote com voo/hotel/traslado partindo de Los Angeles, o que se mostrou uma boa alternativa. Existem várias empresas que fazem este tipo bate-volta de uma, duas ou três noites e, assim, escolhi fechar com a Vegas. Paguei US$150.00 pelo voo de ida e volta, mais uma noite no Imperial Palace Hotel, incluídos os traslados em "shuttle", na ida e na volta. O preço seria uma verdadeira pechincha não fosse o fato de que, ao fazer cada um dos dos "check in's,  tive que desembolsar US$40.00 para levar uma pequena mala de rodinhas. Sim, não estou falando em despachar a bagagem. Nao tive tempo de pesquisar outras companhias aéreas, mas o fato é que, apenas no aeroporto, descobri que a Spirit Airlines cobra este valor para você entrar na aeronave com qualquer outra coisa que não seja sua bolsa de mão. Por sorte, eu não havia seguido em viagem com minhas duas malas, pois, nesse caso, eu teria que arcar com o custo total de US$180.00 apenas de taxas (a bagagem despachada fica em torno de US$50.00), o que representa mais do que o valor total do pacote. 
Você deve estar se perguntando, então, onde foi que deixei minha outra mala. Como eu estava com o carro alugado pelo período de sete dias, segui com ele e deixei-o estacionado nas proximidades do aeroporto durante minha ida a Vegas. Caso voce vá fazer algo parecido, sugiro que deixe seu veículo em um dos muitos estacionamentos existentes nas redondezas, os quais costumam ser muito baratos que os US$30.00 ao dia cobrados no "parking lot" oficial. Deixei meu Mitsubishi zero quilômetro num destes inúmeros páteos ao custo aproximado de US$12.00 ao dia (Valet Air-Park). Anoto também que, aparentemente, não há problema algum em deixar alguma coisa dentro do carro, embora estas empresas não ofereçam seguro contra furtos. Em compensação, todas elas contam com vans de ida e volta ao aeroporto a cada cinco minutos.
O hotel em Vegas não era um Bellagio, mas ficava muito perto dele e era conforta'vel o suficiente para uma única noite. Minha ressalva fica por conta dos totens de utilização de Internet. Além do uso ser caro (US$5.00 por vinte minutos), a máquina engoliu minha nota e jamais liberou o  acesso. Me senti, de saída, perdendo em uma "slot machine". 
Computando, assim, os primeiros momentos em Vegas, tive US$85.00 de despesas inesperadas, pelo que corri para o Casino, onde consegui recuperar uns US$45.00. Menos mal, já que estamos falando de "Sin City". Isso não é nada para Vegas! E que venham mais e mais oportunidades. "Good luck" for us.

 (Las Vegas, Nevada, USA - foto extraida de http://govegas.about.com)

O ENGENHEIRO MAIS BONITO DA ALEMANHA

Considero que o segundo dia em Los Angeles é o ideal para adquirir um city tour pela cidade para que você se oriente e conheça os melhores pontos. E isto vale, obviamente, mesmo que você tenha um carro à sua disposição, porque algumas explicações de um experiente guia são insubstituíveis. Normalmente, os hotéis encontram-se aptos a indicar alguma empresa que preste este tipo de serviço e, pelo que pude comparar, todas elas trabalham de maneira muito similar e a um preço bastante assemelhado.
O hotel em que me hospedei (Marina Del Rey Hotel) indicou uma empresa chamada Vip Tours e, pelo valor de US$79.00, adquiri um passeio pelos principais e tradicionais pontos turísticos da cidade, além de incluir um giro pelas casas das celebridades, especialmente nos bairros de Bel Air e Beverly Hills.
Nove horas da manha, pontualmente, um motorista veio me buscar e me levou até o escritório central, que fica bem perto do aeroporto. Neste local, você paga pelo tour que escolher e se encaminha para o ônibus correto. Por volta das dez horas, entrei no meu ônibus, no qual estavam dois casais de australianos, barulhentos e mal educados, e uma médica e sua filha adolescente, estas duas de Dakota do Sul. Sem muita afinidade com estas pessoas, sentei no último banco do coletivo e seguimos em frente.
Qual não foi minha surpresa, porém, quando, cerca de vinte minutos depois, subiu ao ônibus, atrasado, um engenheiro alemão chamado Alexsander, que, além de lindo, simpático e inteligente, era também muito divertido, o que pode ser considerado mais ou menos esperado para uma pessoa de 28 anos que viajava sozinha há dois meses pelo mundo afora. Ele foi meu companheiro de viagem naquele dia inteiro e, mesmo quando o tour terminou, continuamos circulando juntos até quando ele se encaminhou para seu hostel, em Venice Beach.
Na verdade, o passeio com Alexsander ficou ainda melhor quando o vi irritado com o nosso motorista que, além de estar na casa de seus oitenta anos, era completamente surdo (minha teoria é que ele se fazia de surdo para nao ter que achar graça das piadas infames dos australianos) e não respondia a nenhuma pergunta de Alexsander.
De todo modo, rimos muito por todo o percurso, inclusive quando paramos para almoçar no Farmers Market, que é um local sensacional. Há comida de todos os tipos, frutas maravilhosas, e fica bem ao lado do The Grove, boulevard imperdível, com uma estátua gigante de M&M's.
Após percorrer o clássico roteiro de LA (Venice Beach, Avenue of the Stars, Bel Air, Beverly Hills, Rodeo Drive, Sunset Street, Farmer's Market, The Grove, Hollywood, Mann's Chinese Theatre, Walk of Fame & The Kodak Theatre the home of the Oscars), eu e meu novo amigo fomos ao Santa Monica Pier e assistimos a um maravilhoso por do sol ao som de jazz tocado por um músico de rua. E comemos o melhor camarão do mundo no Bubba Gump Shrimp Co.
Foi um dia extraordinário junto a meu amigo loiro, de olhos azuis, bronzeado e com largo sorriso do alto de seus 1,80 m de altura. Alexsander era tão lindo que as pessoas paravam na rua para falar com ele. Confesso que o assédio inesperado me deixou um pouco constrangida. Mas, por outro lado, ele era tão doce e gentil, que até isso foi agradável. 
No final do dia, fazendo um balanço de tudo, agradeci a todos os deuses do mundo e, em especial a Olimpo, por ter colocado o engenheiro mais bonito da Alemanha no meu caminho, ao menos por uma tarde. E, caso você não tenha reparado, este fato faz todo o sentido quando você considera que, ao menos por aqui, Los Angeles é mesmo conhecida como a cidade dos anjos. E dos milagres, se você me permite acrescentar...

(pier de Santa Monica, Los Angeles, USA - foto extraida de http://www.coastal.ca.gov/)